CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág.4 a 9)
James Childress
CRÔNICA (págs.10 a 11)
Luis Fernando Veríssimo*
SINTONIA (págs.12 a 15)
Dimensão étnico-racial nos estudos sobre saúde
DEBATE (págs.16 a 21)
Hospitais devem receber investimentos externos?
CONJUNTURA (págs.22 a25)
Dilemas éticos no atendimento a presidiários
GIRAMUNDO (págs.26 a 27)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades
PONTO COM (págs.28 a 29)
Informações do mundo digital
EM FOCO (págs.30 a 32)
Paixão pelo futebol e pela Medicina
CULTURA (págs.33 a 35)
Loucura e Literatura
MAIS CULTURA (págs.36 a 37)
Mostra no MAC USP apresenta o artista como autor e editor
HOBBY (págs.38 a 41)
Médico fotógrafo
TURISMO (págs.42 a 46)
Carcassone: cidadela medieval
LIVRO DE CABECEIRA (pág.47)
Henri Beyle
FOTOPOESIA (pág.48)
Mário Quintana
GALERIA DE FOTOS
HOBBY (págs.38 a 41)
Médico fotógrafo
“Sou amador, faço porque amo”
A definição é do médico dermatologista e fotógrafo Andrelou Vallarelli, que já fez 25 exposições pelo Brasil
Desde a infância, Andrelou Vallarelli gostava de pintar e desenhar, mas na vida profissional escolheu atenuar ou curar doenças – em especial, as dermatológicas. Reencontrou a arte, contudo, por meio da fotografia, durante uma viagem a Machu Picchu, em 1987, um ano antes de se formar na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em Campinas, onde também fez mestrado e doutorado, e permanece até hoje como responsável pelo Ambulatório de Doenças Dismetabólicas do Hospital de Clínicas. Ambas as atividades o apaixonam.
Nunca fez curso de fotografia. Autodidata, os enquadramentos e revelações das imagens o fizeram ler, informar-se e mergulhar cada vez mais nesse universo. Aos poucos, foi, também, adquirindo câmeras mais sofisticadas. “Para Machu Picchu, levei uma que não tinha muitos recursos, mas tirei algumas fotos interessantes. Depois, comprei outra melhor, com um bom custo X benefício, totalmente manual, e comecei a praticar fotografando minha família, as pessoas, andando sempre com a câmera”, conta.
A dedicação aumentou desde então. Organizou seu primeiro laboratório, e passou a não só tirar fotos, mas também a entender o processo posterior: revelação, ampliação e uso de materiais químicos. Até que veio a primeira exposição, em 1994. “Algumas pessoas já conheciam o meu trabalho, mas foi a primeira vez que expus. Não fazia ideia de como era, simplesmente escolhi algumas fotos e coloquei lá. O mais interessante foram os comentários: ‘você fotografa bem, tem uma visão boa para fotografia...’. Isso acabou estimulando a me aperfeiçoar, estudar mais e melhorar minha técnica, o que trouxe mais exposições”. Já fez, até agora, 25 delas por todo o Brasil, destacando-se a mostra Les gens de Paris, que percorreu oito Estados do país e lhe trouxe muitas oportunidades similares.
Convergência
“Utilizo a fotografia tanto como recurso para documentação de casos dermatológicos como para o meu prazer, e também a estou usando para fazer trabalhos de arte dentro da minha especialidade médica. Na verdade, consegui conciliar duas paixões que estão incorporadas, não sei se é apenas um hobby”, diz. Andrelou já fez um trabalho fotográfico que mostra as semelhanças entre os chamados acidentes da natureza e as doenças da pele, premiado num congresso.
Sua experiência abrange também outros tipos de foto. Não gostou, mas já fez moda, estúdio e trabalhos como freelancer num jornal de Campinas, sem deixar as atividades de médico. Fazia essas atividades no horário de almoço e, às vezes, sequer almoçava. Também registrou paisagens e shows, cujas imagens integraram uma exposição no Museu da Imagem e do Som daquela cidade.
Andrelou Vallarelli:"Por não depender da fotografia como meio de vida, tenho a chance de fotografar aquilo que quero"
“Felizmente, a fotografia me faz um amador na amplitude da palavra. Faço porque amo, então, por não depender dela como meio de vida, tenho a chance de fotografar aquilo que quero sem estar preso a um trabalho. Se não fosse assim, seria obrigado a cobrir casamentos, aniversários, e teria os problemas cotidianos de uma profissão como qualquer outra”.
Sua preferência é pelas fotos inusitadas. Procura sempre estar no lugar e hora certos, atento e se antecipando aos fatos possíveis, para capturar o momento que jamais se repetirá. “Foquei nesse tipo de trabalho, de rua, que mostra o cotidiano das pessoas, e com cenas do aspecto nostálgico da vida. Nós estamos nos isolando, mas quando se sai à rua, ainda se vê uma série de eventos. Isso é realmente o que mais gosto na fotografia”.
Ídolos e estilos
“Gosto muito do Elliott Erwitt, pois ele faz fotos que contam pequenas histórias cômicas. Ele enxerga o mundo de uma maneira muito particular. O trabalho de Sebastião Salgado é fundamental, embora seja uma obra difícil de ser vista. Curto mais fotógrafos que registram cenas cotidianas”, revela Vallarelli. Henry Cartier-Bresson, Werner Bischof e outros também foram citados e estão na ampla biblioteca do médico. O estilo fotográfico deles influencia muito o dermatologista, principalmente por causa da ideia de enxergar a cena enquadrada e pelas surpresas trazidas somente após a revelação da película. “Como ainda fotografo com equipamentos analógicos, não tenho ideia se a foto que fiz vai sair do jeito que eu gostaria. A vantagem é que treinei isso, muitos fotógrafos vieram de uma geração de imagens analógicas e eram obrigados a aprimorar sua técnica e a conhecer os recursos da câmera”.
Instagram
“Eu uso! Antes, perdiam-se duas ou três horas no laboratório para colocar efeitos numa foto e era preciso ter muitas ferramentas. Hoje, com o Instagram e outros recursos, você pode usar a criatividade de maneira fantástica. Parece paradoxal, mas adoro a fotografia convencional e também os recursos digitais”. Para o dermatologista, assim como as pessoas continuam frequentando as salas de cinema, mesmo com um moderno home theater em casa, a pintura também continua, apesar do surgimento de outras tecnologias para registro de imagem – com a holografia, que chegará em breve, o modo convencional de fotografar não vai acabar.
Há também, segundo ele, uma facilidade para qualquer um publicar o que desejar. “Antes, na literatura, por exemplo, você escrevia um livro e ficava anos procurando uma editora para publicá-lo, às vezes até abandonava esse sonho. Na fotografia, você teria de começar auxiliando um fotógrafo, fazendo trabalhos e sendo conhecido aos poucos. Hoje, pode-se colocar na internet. As próprias pessoas e a crítica irão filtrar isso, mostrando se é bom ou não. Quem é ruim, vai embora. Quem é bom, permanece”.
E o que ele espera de quem vê suas fotos? “Tenho uma história interessante: alguns anos atrás, meu portfólio chegou à curadora do Masp, que me chamou para ir à sua casa. Quando cheguei, ela viu algumas fotos e, diante de uma delas, ficou emocionada. Fiquei sem graça. Depois ela me disse que se viu dentro da imagem, quando criança. Para mim, era uma foto interessante, mas, para ela, contava uma história, mesmo 40 anos depois. Esse tipo de visão e de comentário é muito bom. Uma pessoa que tem uma história para contar, baseada numa imagem que viu, mostra muito a força da fotografia, e é gratificante ao fotógrafo”, assegura Vallarelli. E finaliza: “acho fantástica a ideia de se imprimir uma imagem, a reação química e todo o processo para fixá-la. A fotografia me permite também ir a locais, falar e me relacionar com pessoas. Talvez se eu não tivesse uma razão exata para isso acontecer, não faria nada disso. Mas a parte artística é inerente, trago desde a infância, é um elemento forte, que faz parte da minha vida”.
(Colaborou Jonas Carvalho)