CAPA
EDITORIAL (pág.1)
Ponto de Partida - Novo Código de Ética Médica reafirma o respeito ao ser humano
ENTREVISTA (pág. 4)
Uma conversa com o introdutor do ensino de Nutrologia nas escolas médicas do país
EM DEBATE (pág. 9)
Abortamento espontâneo: entender porque ocorre reduz o estresse associado à perda
CRÔNICA (pág. 12)
Ruy Castro e a biografia que escreveu sobre a "pequena notável"...
SAÚDE NO MUNDO (pág. 14)
O sistema de saúde português garante a melhoria significativa de saúde da população
AMBIENTE (pág. 18)
Conheça a rede mundial Saúde Sem Dano: mais de 50 países participam
SINTONIA (pág. 21)
Indústria de alimentos deve estimular o consumo de produtos saudáveis
EM FOCO (pág. 23)
Forças Armadas do Brasil e Força Expedicionária Brasileira
GIRAMUNDO (pág. 26)
Curiosidades da ciência e da história
PONTO COM (pág. 28)
Canal de atualização com as novidades do mundo digital
HISTÓRIA (pág.30)
A assepsia das mãos na prática médica
GOURMET (pág. 33)
Acompanhe a preparação de uma receita especial para a macarronada do domingo...
CULTURA (pág. 36)
Tide Hellmeister: artista de técnicas variadas, deixou obras expostas no Cremesp
TURISMO (pág. 40)
Registro de um passeio inesquecível pelos vilarejos franceses
CABECEIRA (pág. 46)
Confira as sugestões de leitura do médico cardiologista Adib Jatene
CARTAS (pág. 47)
Versões digitais do JC e da SM facilitam acesso e leitura
POESIA(pág. 48)
Explicación, de Pablo Neruda, no livro Barcarola (1967)
GALERIA DE FOTOS
SINTONIA (pág. 21)
Indústria de alimentos deve estimular o consumo de produtos saudáveis
Qual é o limite da propaganda para crianças?
Saem apelos, como o despudorado “peça para sua mãe comprar”, mas ainda sobram ofertas de alimentos com gordura e açúcar
O percentual de crianças com prevalência de peso excessivo no Brasil aumentou de 7,6% para 9,2% entre 2007 e 2008, de acordo com pesquisa do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). O crescente consumo de alimentos industrializados e a rotina cada vez mais sedentária são os principais responsáveis por esses índices. O Ministério da Saúde gasta 70% do orçamento no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, e diversas são decorrentes da obesidade. O forte apelo ao consumo que a propaganda dirigida ao público infantil consegue despertar é uma preocupação mundial, principalmente as campanhas publicitárias de alimentos industrializados e das redes de fast food, que têm efeitos diretos sobre a saúde. Vários países as restringem e outros as proíbem. No Brasil, o panorama vem mudando, lenta e timidamente, sob um jogo de forças que promete esquentar neste ano.
Após pressões e protestos da sociedade, a apelação começou a ser amenizada a partir de 2006, quando o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) adotou novas regras para esse segmento. Entre elas, a entidade recomenda não utilizar verbos no imperativo, como nas despudoradas frases “peça para sua mãe comprar” ou “corra para comprar o seu”. Em relação a alimentos, como achocolatados e refrigerantes, o órgão estabeleceu que a publicidade não deve “encorajar consumo excessivo; menosprezar a importância da alimentação saudável; apresentar os produtos como substitutos das refeições; empregar apelos de consumo ligados a status, êxito social e sexual etc.; desmerecer o papel dos pais e educadores como orientadores de hábitos alimentares saudáveis; e gerar confusão quanto à sua qualidade, valor calórico, se natural ou artificial”.
Organizações sociais, lideradas pela Associação Paulista de Medicina (APM) e Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), lançaram a Carta de São Paulo, em novembro de 2008, cobrando ações da indústria de alimentos e das autoridades para uma alimentação saudável desde a infância. Assinaram o documento a Sociedade de Pediatria de São Paulo, o Núcleo Interdepartamental de Segurança Alimentar Nutricional e a Disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Promotoria de Justiça do Consumidor de São Paulo e o Instituto Alana.
No ano seguinte, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), em parceria com a Associação Brasileira de Anunciantes (Aba), divulgou um acordo de 24 empresas do setor alimentício – entre elas, Coca-Cola, Nestlé, Unilever, Sadia, Danone e Parmalat – em que assumem o compromisso de restringir a publicidade de produtos que contenham elevadas taxas de gorduras, açúcares e afins. Pelo documento, também concordam em não fazer propaganda dirigida a crianças menores de 12 anos em veículos de comunicação (TV, jornais, revistas e sites) com mais de 50% de audiência nessa faixa etária. Mas a decisão prevê exceção para alimentos “cujo perfil nutricional atenda critérios espe¬cíficos baseados em evidências científicas”, abrindo brecha polêmica sobre a ação das empresas.
Entidades como o Idec e a Pro Teste não veem efetividade no pacto de autorregulamentação dos anunciantes e defendem que as autoridades sanitárias adotem fortes restrições no combate à propaganda dirigida ao público infantil. Em países da Comunidade Europeia e nos Estados Unidos, muitas empresas já haviam assinado acordo similar ao do Brasil. Em seu site, o Idec disponibilizou um estudo de 2009, da organização norte-americana Children Now, de proteção à criança, que aponta falhas na autorregulação das indústrias. Segundo a pesquisa, apesar do compromisso empresarial, a maioria dos alimentos de baixo valor nutricional continuou a ser oferecida às crianças nas campanhas publicitárias daquele país.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou audiência pública, em agosto de 2009, para discutir regras específicas à propaganda de alimentos que possuem quantidades elevadas de açúcar, gorduras saturada e trans e sódio. Foi uma das etapas conclusivas da Consulta Pública nº 71, aberta em 2006, para colher sugestões a uma resolução sobre o assunto. Segundo a Anvisa, as novas regras sairiam até o final 2009, mas até o fechamento desta edição ainda não haviam sido publicadas. Entre as sugestões discutidas na audiência, há a proposta de que a publicidade de alimentos industrializados fique restrita ao período das 21h às 6 horas (quando a maioria das crianças dorme) e que deve veicular alertas para os riscos de consumo excessivo dos produtos, como o de obesidade e cárie (para os açucarados), diabetes e doenças do coração (para os que contêm gorduras saturadas). Também tramita, desde 2006, no Congresso Nacional, um projeto de lei sobre o tema.
Produtos açucarados devem veicular alertas contra riscos de obesidade e cárie, sugere Anvisa
“A restrição à propaganda de produtos alimentícios calóricos pode colaborar para a redução do crescimento da obesidade na infância e adolescência, mas como única medida será pouco eficaz. A obesidade depende de inúmeros fatores, como, por exemplo, a falta de atividade física e de lazer”, avalia Marcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
A Suécia e a Noruega, há mais de dez anos, têm leis que proíbem a propaganda destinada diretamente ao público infantil. Na Inglaterra, os personagens do desenho animado Os Simpsons, foram escolhidos pelo Ministério da Saúde para uma campanha de combate à obesidade. No começo de cada um dos episódios da série, o telespectador vê imagens da família no sofá, comendo alimentos gordurosos e de fast food, que são gradativamente substituídos por outros mais saudáveis, como frutas e verduras.
Pesquisa nos EUA aponta falhas na autorregulação das empresas
O Brasil ainda parece estar longe de aprovar medidas parecidas. A proibição total dessas campanhas, por exemplo, enfrenta forte resistência não só da indústria de alimentos como também dos veículos de comunicação, que vivem de anúncios, e do próprio mercado publicitário. O Conar diz que tal medida seria “censura à liberdade de expressão”. O órgão, porém, reconhece que deve existir alguma proteção para esse segmento e lançou, no início deste ano, o livro “O fator publicidade de alimentos e refrigerantes e sua relação com a obesidade – Produtos seguros, alimentação balanceada, atividade física e informação: a dieta do Conar”. O intuito da entidade é discutir a autorregulamentação publicitária no mundo sobre produtos alimentícios e refrigerantes e a relação da propaganda com obesidade. Alguns fabricantes nacionais e, principalmente, multinacionais, já adotaram medidas éticas sobre o tema, tendo em vista a tendência mundial de fechar o cerco contra o apelo publicitário aos baixinhos.
(Colaborou Leandro Chaves)