CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 4,5
Cartas e notas
PÁGINAS 6, 7, 8, 9, 10 E 11
Entrevista
PÁGINAS 12 E 13
Crônica
PÁGINAS 14, 15, 16, 17
História
18, 19, 20, 21
Panorama
PÁGINAS 22, 23, 24 E 25
Em foco
PÁGINAS 26,27,28 E 29
Vanguarda
PÁGINAS 30 E 31
Tecnologia
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
PÁGINAS 34, 35 E 36
Opinião
PÁGINA 37
Resenha
PÁGINAS 38 E 39
Hobby
PÁGINAS 40,41,42 E 43
Turismo
PÁGINAS 44,45,46 E 47
Agenda cultural
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINAS 38 E 39
Hobby
Paixão pelas alturas
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No início, era um meio de preencher o vazio deixado pelo término de um relacionamento. Depois, evoluiu para uma espécie de válvula de escape, necessária para enfrentar os árduos anos da Residência Médica, e, por fim, consolidou-se como uma grande paixão, tornando- se seu hobby preferido. Foi assim que o paraquedismo se firmou, desde 2015, na vida do oftalmologista Mikael Kwang Chul Chun, 29. "Eu estava naquela fase de buscar alguma novidade, algo que me fizesse bem e que preenchesse aquela sensação de vazio. Sempre tive vontade de saltar de paraquedas, então, deu muito certo". O amor pelos esportes esteve presente desde muito cedo. Mikael recorda-se dos incontáveis joelhos ralados, arranhões e, até mesmo, uma clavícula quebrada, que colecionava quando criança, decorrentes de seus passeios de patins. Mas eles nunca foram um problema e, até hoje, é assim. "O paraquedismo é uma prática perigosa, mas é um perigo controlável, devido à alta tecnologia dos equipamentos. É impossível dizer que não sinto medo quando a porta do avião abre, indicando a hora do salto, mas depois passa... e você confia. A gente não sobe lá pra morrer", brinca. Durante a graduação, o jovem médico viajou com um grupo de amigos à Califórnia, onde migrou do patins para o snowboard, esporte que consiste em equilibrar-se sobre uma prancha, na neve. "O snow era minha primeira paixão antes do paraquedismo. Mas, como aqui não neva, comecei a andar de wakeboard, que é, de certo modo, semelhante, porém, feito no mar, em rios ou grandes lagos", comenta.
SALTOS
Após um longo tempo transitando de uma atividade radical a outra, a busca pelo novo levou-o ao esporte nas alturas. Inscreveu-se no Accelerated Free Fall (AFF), curso básico de paraquedismo, com valores que variam de R$ 4.000 a R$ 4.500, cujas aulas são divididas entre práticas e uma teórica, com quatro dias de duração, em média, dependendo da disponibilidade do aluno.
Nutrir sua paixão não é tão fácil, já que os gastos não podem ser considerados ínfimos, observa Mikael. Segundo ele, o primeiro salto fica em torno de R$ 200,00, incluindo o equipamento e a vaga no avião. Aqueles que, como ele, já possuem os materiais necessários, contribuem apenas com o valor da vaga no transporte aéreo de, em média, R$ 120,00. O médico já fez 411 saltos. "Costumo saltar uma vez ao mês. Geralmente, faço de cinco a dez saltos no dia, e ainda acho pouco", ri.
O paraquedismo fez com que Mikael conhecesse diversos atletas que buscam, assiduamente, evoluir no esporte, o que o motivou a se aperfeiçoar cada vez mais. Quando iniciante, os saltos eram mais básicos, "de barriga", com duração de 45 segundos, e alcance de 12.000 ft, o que corresponde a quase 4.000 m, em uma velocidade de 200 km/h. Conforme foi progredindo, começou a inovar nas posições, podendo ir "sentado", a 300 km/h, ou de ponta cabeça, a 400 km/h. O tempo máximo possível para permanecer no ar, segundo ele, é de, em média, 1 minuto.
A atividade possui também categorias, segmentadas de acordo com o nível e número de salto de cada esportista. "Existe as classes A, B, C e D, sendo a D a mais avançada. Eu estou na C, que seria de 200 a 500 saltos. Tem que ter muito foco", assegura. Alcançar esta categoria não foi fácil e, para isso, o oftalmologista inseriu em sua rotina a ida semanal, por 15 minutos, a um "túnel de vento" — simulador de vento que auxilia no treinamento do salto de paraquedas, encontrado em locais específicos da capital paulista – que custa, por hora, R$ 3 mil reais.
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Aderiu a esta alternativa não apenas pelo desejo de aprimorar-se, mas também pela necessidade, já atrelada visceralmente a ele, de sentir-se nas alturas. O dia a dia corrido, entre grandes clínicas oftalmológicas e convênios médicos, impede que Mikael pratique seu hobby regularmente e, para não se afastar completamente de sua paixão, viu o equipamento como opção. Ele conta que se ficar um mês sem saltar já tem sintomas semelhantes a uma abstinência, mas, com o túnel, a vontade é temporariamente saciada.
O médico influenciou seu irmão mais novo, Gabriel, a também praticar paraquedismo. No início deste ano, ambos puderam desfrutar da sensação de "voar" juntos.
MEDICINA
Não foi por acaso que o jovem escolheu a Oftalmologia como profissão. Desde pequeno, admirava o trabalho do pai como fotógrafo, o que fomentou seu fascínio pelo audiovisual. Indiretamente, o gosto pelas imagens e cores o ligou à Medicina — e também ao paraquedismo. Os belos visuais que já presenciou ao saltar em lugares como Califórnia e Paraty (RJ), consolidaram-se como elementos que estimularam seu encanto pelo esporte, e também pela especialidade médica. "Meu trabalho tem muito a ver com a questão visual. É muito relacionado ao meu gosto pela ótica".
A atividade também acabou auxiliando Mikael em suas ocupações do dia a dia. Segundo ele, o paraquedismo o ajuda a manter o foco e a concentração em momentos cruciais — algo imprescindível em sua profissão, principalmente quando se trata da realização de cirurgias oftalmológicas.
Envolver-se com a arte, provavelmente a fotografia, para registrar imagens dos atletas nas alturas, é um dos planos do médico. Mas, por enquanto, uma de suas únicas certezas é a paixão pelos saltos e por tudo que eles proporcionam. "No paraquedismo, você conhece muita gente diferente. No céu, não importa sua idade, sua cor, o que faz da vida... No céu, é todo mundo igual. Como não se apaixonar?"
Colaborou: Júlia Remer
1: Leonardo Queiroz
2: Osmar Bustos