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Edição 89 - Outubro// de 2019

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Tecnologia

Avanços tecnológicos em Radiologia

Por Bruno Aragão Rocha*

Dentre as especialidades médicas, a Radiologia sempre se destacou pelo íntimo
contato com novas tecnologias. A incorporação tecnológica está no DNA da especialidade. Se pararmos para refletir, a descoberta dos raios X foi em 1895, e, já nos
primeiros anos do século 20, essa nova ferramenta já se espalhava pelo mundo inteiro como método diagnóstico na prática clínica. A exemplo do raio X, as outras ferramentas que foram surgindo ao longo das décadas também tiveram uma relativa baixa barreira de entrada para seu uso rotineiro.


No entanto, esses saltos tecnológicos, ou mesmo o interesse gerado na comunidade científica acerca de determinados temas, não obedecem a uma curva linear. Passamos por anos de relativa calmaria, seguidos de anos de intensa discussão de utilidade e produção científica, até a estabilização e real incorporação da tecnologia na prática diária. Nos últimos três anos, mais especificamente, estamos vivendo um período fértil de discussões. A diferença em relação a outras épocas é que há temas um pouco
diferentes sendo discutidos ao mesmo tempo. Dentre eles, podemos elencar como principais os seguintes: algoritmos de inteligência artificial, a impressão 3D e o radiomics.


Apesar de um pouco diferentes entre si, esses campos de estudo guardam um ponto em comum: não são novos métodos de aquisição de imagem, mas, sim, maneiras diferentes de pós-processar os dados que já existem e estão escondidos nos nossos exames convencionais, com o foco na individualização da expressão das doenças.


1: Biomodelo 3D de coração pediátrico com aneurisma congênito de ventrículo esquerdo para planejamento cirúrgico

 

O radiomics, por exemplo, seria a expressão mais fiel dessa tendência. Consiste, na prática, em extrair uma grande quantidade de dados a partir da imagem de áreas de interesse (um tumor por exemplo), por meio de algoritmos, de forma a documentar de maneira matemática o “fenótipo” da imagem daquele tumor específico. Esses dados são armazenados e cruzados com uma série de informações clínicas, genéticas laboratoriais, com o objetivo de identificar marcadores prognósticos ou de tratamento individualizados, baseados na expressão radiológica. Ou seja, não basta apenas detectar e dizer que um tumor renal tem característica de carcinoma de células claras. Podemos ir além e extrair dados que mostrem o quão homogênea ou heterogênea é a textura, o grau de espiculação, o padrão de necrose central, dados perfusionais, dentre outros.


Quanto à impressão 3D, é uma ferramenta que também reflete a mesma tendência
à individualização do tratamento. Não é um método diagnóstico novo, apenas uma
forma de representar a informação anatômica que está contida no exame, de uma maneira mais útil para o cirurgião. Desta maneira, uma sequela de fratura de colo umeral, por exemplo, passa a ter identidade própria, permitindo que o cirurgião planeje seus passos operatórios de maneira bem mais individualizada, inclusive customizando as placas e parafusos de forma mais adequada para aquele caso.


Os algoritmos de Inteligência Artificial (IA), por sua vez, serão a grande ferramenta capaz de nos fazer entrar de vez na individualização do paciente. Isso porque todos esses avanços exigem trabalhar com uma quantidade absurda de dados e associações, com as quais, humanamente, não conseguiríamos lidar. No radiomics, por exemplo, a aplicação de algoritmos de IA nos permitirá fazer inferências e previsões, a partir de bancos de dados enormes, otimizando cada etapa do processo, desde a extração desses dados até os cruzamentos com dados genéticos, clínicos e laboratoriais.
Mesmo na impressão 3D, a IA terá um grande papel, na medida em que permitirá a criação de ferramentas de segmentação automática de imagens, fazendo com que o processo, hoje trabalhoso, de gerar o arquivo no formato CAD, resuma-se a uma
mera conferência de que todas as áreas de interesse foram incluídas na representação.

*Radiologista do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, do Hospital Sírio-Libanês e do Grupo Fleury

1: Acervo pessoal

 


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