CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Álvaro Nagib Atallah
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital Estadual Pérola Byington
FORMAÇÃO MÉDICA (pág. 5)
Medicina para o paciente
EXAME DO CREMESP (pág. 6)
11ª Edição
ENSINO MÉDICO (Pág. 7 a 9)
Escolas de Medicina
EPIDEMIA (pág. 10)
Aedes aegypti
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Parceria Cremesp
EU, MÉDICO (pág. 12)
Paulo Sérgio Brasil Júnior
VIOLÊNCIA (pág. 13)
Campanha conjunta
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina
BIOÉTICA (pág. 15)
Ernesto Lippman*
GALERIA DE FOTOS
EU, MÉDICO (pág. 12)
Paulo Sérgio Brasil Júnior
Médico ex-obeso vira maratonista
Paulo Sérgio Brasil Júnior usou sua experiência pessoal para impulsionar a carreira na Medicina Esportiva e auxiliar outros gordinhos
Brasil: "perder peso é retomar a rédea da vida.
A saúde não é só ausência de doença, é qualidade de vida"
As experiências da vida pessoal influenciaram totalmente as escolhas do universo profissional do médico Paulo Sérgio Brasil Júnior, de 36 anos, hoje com 7 meias maratonas, uma maratona e uma prova de triátlon no histórico esportivo. Quatro anos atrás, ele passava dos 112 quilos – pelo menos até janeiro de 2011, quando parou de se pesar.
“Fui um menino bem magrinho. Daqueles que a mãe levava ao pediatra para tomar vitamina. Mas, durante a faculdade de Medicina, é comum engordar. São noites sem dormir estudando, sem comer direito. Entrei na faculdade com 42 quilos e acho que cheguei a quase 120”, conta, considerando que o erro alimentar, aliado aos excessos – inclusive da carga horária da profissão –, ocasionaram o ganho de peso.
A transformação veio no que ele interpreta como fundamental para o emagrecimento: um acontecimento marcante e pessoal, que alerte o obeso e o faça buscar por mudança. Em seu caso, o baque veio em uma tarde de domingo, quando manifestou a vontade de se juntar às crianças da família, que brincavam na grama. A cunhada duvidou que ele conseguisse. Sua fala foi certeira e, segundo ele, atingiu diretamente seu ego. “Na infância, minha mãe dizia que eu tinha “febre olímpica” porque não parava, era esportista. E, na faculdade, fui campeão em diversas modalidades”, relata.
“Foi então que decidi mudar. Primeiro, fiz como todo mundo: fui para a academia, para a esteira. Sabe quanto tempo eu caminhei? Trinta segundos”, confessa o médico. Logo na primeira tentativa, machucou a canela. Assim, passou a estudar as dores que tinha e seu ritmo de emagrecimento, para levar os exercícios adiante.
Os treinos e estudos em sua busca pessoal foram compartilhados no blog De médico, atleta e gordo, todos temos um pouco (http://demedicoatletaegordo.blogspot.com.br/), iniciado como um diário, por sugestão de seu pai. Todavia, poucos dias depois, o endereço já apresentava 30 mil acessos.
“Cerquei-me de pessoas que pudessem me orientar, fiz uma pós-graduação em Medicina Esportiva e faço parte da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva. Estou apenas aguardando o congresso em outubro para obter meu título. Tudo isso mudou tanto minha vida que passou a fazer parte da minha atividade profissional”, diz Brasil. Atualmente ele conta com uma nutricionista e um personal trainer – também seu orientador de corrida – que o acompanham no que ele considera sua “luta eterna”, a briga contra a balança.
Experiências
Formado em Medicina em 2007, pela Universidade Federal do Amazonas, Brasil trabalhou, logo após a faculdade, cerca de nove meses no interior do Amazonas, vendo de perto a realidade difícil de muitos em seu Estado de origem.
Quando chegou a São Paulo, para trabalhar no hospital Santa Marcelina e no atendimento no Programa Saúde da Família, o médico não se surpreendeu com a periferia paulistana. “No interior do Amazonas já fiz pré-natal de menina de 13 anos, grávida e sozinha, que precisava subir as rampas das casas de palafita sobre o rio, não havia escada. Lá, a criança entra no consultório e fica empurrando a cadeira porque ela não conhece o que é um móvel. É a extrema pobreza, a necessidade, e sem uma política pública voltada para eles. Eu não me assustei com São Paulo, mas é claro que lá, anos atrás, não tinha drogas nem o crime organizado como aqui”, compara.
Depois de atender em bairros da Capital, como Guaianazes, São Miguel Paulista e Cidade Tiradentes, o médico está atuando apenas na cidade de Mogi das Cruzes (SP), onde mora e trabalha em uma clínica e em hospitais da região. A mudança no endereço profissional se deu pelo nascimento de sua primeira filha, que completa dois meses de idade. “Com a rotina corrida de todo médico, se eu estivesse trabalhando longe, não teria chances de acompanhar esses primeiros momentos de vida dela. Filho é uma mudança absurda na vida, e vale muito a pena”, diz Brasil, emocionado.
Cultura dos bons hábitos
Após um período buscando a melhor forma de atingir seu peso, depois de já perdidos 22 quilos, em 2013, Brasil e uma amiga decidiram se ajudar compartilhando seus esforços em um grupo no Facebook. “Eu não sabia que tinha que tornar o grupo de discussões fechado. Colocávamos lá, livremente, todas as nossas dificuldades e dicas. Então, algumas pessoas foram acessando e começou o projeto Carcará”, explica. Ele não participa mais do grupo, mas diz que fez amigos e viu histórias fantásticas no espaço.
No Sistema Único de Saúde (SUS), Brasil trabalhou em um projeto dedicado à obesidade e sobrepeso, no qual um grupo de profissionais realizava atendimento preventivo com análise das medidas corporais, peso e exame de vitamina D, além de orientações de alimentação, como substituições práticas de alimentos para outros mais saudáveis.
O médico sabe que precisa entender o paciente, mais do que apenas clinicamente, para conseguir o tratamento ideal e que ele o siga. “Sei que os pacientes passam por muitos traumas. Eu fui um jovem atleta, saudável, enquanto muitos sofrem preconceito dos próprios pais, pois foram crianças obesas, adolescentes gordos”, destaca.
“Perder peso é retomar a rédea da vida. A saúde não é só a ausência de doença, é a qualidade de vida, o bem-estar físico e mental e ter hábitos mais saudáveis. Entre as coisas que você deve deixar para seu filho está o legado alimentar, dos bons hábitos. Tudo isso é saúde. E é o que eu faço para mim e para os outros”, afirma.