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CAPA

EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 3)
Álvaro Nagib Atallah


INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital Estadual Pérola Byington


FORMAÇÃO MÉDICA (pág. 5)
Medicina para o paciente


EXAME DO CREMESP (pág. 6)
11ª Edição


ENSINO MÉDICO (Pág. 7 a 9)
Escolas de Medicina


EPIDEMIA (pág. 10)
Aedes aegypti


AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Parceria Cremesp


EU, MÉDICO (pág. 12)
Paulo Sérgio Brasil Júnior


VIOLÊNCIA (pág. 13)
Campanha conjunta


CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina


BIOÉTICA (pág. 15)
Ernesto Lippman*


GALERIA DE FOTOS



Edição 328 - 08/2015

ENTREVISTA (pág. 3)

Álvaro Nagib Atallah


“O tratamento com base na melhor evidência científica
é libertador”

“Julgar o tratamento mais caro e novo como o melhor
nem sempre é verdadeiro”

Nascida originalmente como um projeto para mapear o conhecimento em todas as áreas da Medicina, a Fundação Cochrane tem como missão difundir o uso de evidências científicas para decisões em Saúde. No Brasil, o Centro Cochrane foi fundado, em 1996, pelo médico clínico geral e nefrologista Álvaro Nagib Atallah e professor titular da EPM/Unifesp. Em um trabalho “de formiguinha”, ele dissemina o ideal da Cochrane junto a profissionais de saúde e do Direito. Conseguiu, inclusive, influenciar a legislação nacional e que os conceitos sobre as práticas em Saúde – como segurança, eficácia e efetividade – estivessem previstos em lei, nas elaborações de diretrizes em saúde e na avaliação de novas tecnologias para o Sistema Único de Saúde (SUS).


O Brasil é um dos 14 centros de colaboração do Centro Cochrane no mundo, desde 1996. Quais são as principais contribuições do Brasil? 

Apesar de ser uma ciência nova, o Brasil está na vanguarda da Medicina Ba­sea­da em Evidência, do ponto de vista dos marcos legais. Somos modelo porque interagimos com o Ministério da Saúde (a ponto de inspirarmos uma lei) e com o Ministério da Justiça, e elaboramos artigos, cursos e demais treinamentos, como em nenhum outro país em que a fundação está presente. Promovemos mestrado, doutorado e pós-doutorado, já tendo formado 250 profissionais. Treinamos profissionais de todas as áreas do SUS há dez anos. Mesmo com baixos orçamentos atuamos levando conhecimento também  à população de baixa renda. E ainda produzimos conteúdos científicos.
 

Como analisa o movimento Medicina em Evidência no Brasil?

Formamos uma comunidade que objetiva a tomada de decisão baseada na melhor comprovação científica. E buscamos que cada vez mais a sociedade se engaje nessa ideia. Realizamos cursos trilíngues, por teleconferência, como o Saúde Baseada em Evidência, para profissionais da Saúde, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, e o de Direito à Saúde Baseada em Evidência, para subsidiar as decisões de profissionais do Direito, em parceria com o Ministério da Saúde. Também participamos da Colaboração Cochrane (Cochrane Collaboration), que faz revisões sistemáticas de ensaios controlados aleatórios de intervenções médicas e publica suas conclusões na Biblioteca Cochrane. É obrigatório que haja textos que os leigos compreendam. Das mais de 10 mil perguntas relevantes da Medicina, a Cochrane já respondeu 6 mil delas,  como “ácido acetilsalicílico realmente é bom para o coração?” ou “as vacinas funcionam?”, entre muitas outras. Quando temos o conhecimento, é nossa obrigação disseminá-lo pelo mundo. Se há dúvidas, encaminhamos aos cientistas para pesquisa. E, eticamente, não podemos ter relação com laboratórios.
 

De que maneira a Cochrane contribui para que os médicos, em geral, tenham conhecimento e baseiem suas condutas em tratamentos consagrados cientificamente?

Desde 1995, antes da criação do centro, já investíamos em divulgação, inclusive com programas de televisão. Atualmente, o programa Medicina Baseada em Evidência está no ar pela TV Aberta São Paulo (canal 9 da Net) e em mais 27 canais no Brasil. Participamos ainda de congressos e outros eventos, levando os conceitos de eficácia (“o exame funciona em condições ideais?”), efetividade (“funciona no mundo real?”), eficiência (“é simples e barato?”) e segurança (“a utilização é segura?”). A sociedade tem como ferramenta de defesa o questionamento se o tratamento indicado por quem prescreve tem base na melhor evidência científica existente. É uma ferramenta de libertação das pessoas com poucos recursos. Trabalhamos ainda para que as escolas médicas tenham a disciplina Medicina Baseada em Evidência no currículo da graduação, sendo que apenas 20% delas já possuem esse curso.
 

Quando é válido utilizar tratamentos inovadores, ainda não consagrados cientificamente?

Novidades são bem-vindas, mas se não esperarmos a análise científica, estaremos fazendo experiências com humanos, o que eticamente não é aceito. Quando há evidência de maior chance de dar certo utilizando determinado tratamento, recomendamos adotá-lo. Mas o último item da evidência é a opinião do médico especialista.
 

E as indicações off label? O que é eticamente aceito?

Não existe Medicina baseada em bula. Na revisão sistemática feita pelo Centro Cochrane do Brasil sobre o tratamento para degeneração macular, concluímos que o bevacizumabe intraocular, em pequenas doses, funcionava melhor que o tratamento convencional, que custava R$ 20 mil há vinte anos. Além disso, o off label reduzia o custo para R$ 5 mil. O ideal é que a indicação do off label passe por pesquisa, mas acima de tudo está o Código de Ética Médica, que recomenda fazer o máximo pelo paciente.
 

Há inúmeras solicitações ao Judiciário por medicamentos de alto custo sem evidência científica. O que pensa sobre a judicialização da saúde em nosso País nesta situação?

Em 2011, o governo federal aprovou a lei 12.401 que diz que a implementação de tecnologia no SUS deve ser baseada em evidências científicas. As demandas para recursos na saúde são finitas e a Medicina Baseada em Evidência pode contribuir para a redução de custos. A Cochrane procura ajudar na tomada de decisões judiciais na medida em que treina profissionais da área do Direito. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Brasília lançará, no final de agosto, um portal de evidências para juízes tomarem decisões com base na melhor ciência, apoiadas pela Cochrane e outras instituições. Sem orientação, esses profissionais podem tender a julgar o tratamento mais caro e novo como o melhor, o que nem sempre é verdadeiro.
 

Como deve o médico regulador no serviço público ou privado se comportar frente a solicitações médicas sem sustentação em evidências?

Eles devem ser orientados. Todos os nossos cursos visam também aos gestores. Eles têm de saber se o que vão comprar tem eficiência e segurança. A abertura de portas junto ao Hospital Sírio-Libanês e ao Ministério da Saúde permitiu que os gestores tomassem ciência da necessidade desse conhecimento. Além disso, o MS criou o portal Saúde Baseada em Evidências, em que todos os profissionais podem ter acesso às informações.


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