CAPA
PONTO DE PARTIDA (PÁG. 1)
O médico, os planos de carreira e os novos desafios
ENTREVISTA (PÁG. 4)
"É preciso aprender a gerir a própria emoção"
CRÔNICA (PÁG. 10)
Envelhecendo, mas sem desanimar
CONJUNTURA (PG. 12)
Você é Nomofóbico?
VANGUARDA (PG. 16)
Progressos da cirurgia bariátrica
DEBATE (PG. 20)
Planos de Carreira para Médicos
SINTONIA (PG. 26)
O Direito e a certeza médica
HISTÓRIA DA MEDICINA (PG. 29)
Como é bom ser bom
HOBBY (PG. 32)
Paixão pela arte e fascínio pela Medicina
GIRAMUNDO (PG. 36)
Cérebro criativo
PONTO COM (PG. 38)
Quem diria...
CULTURA (PG. 40)
Cultura, emoção e história
GOURMET (PG. 44)
De bem com a vida
FOTOPOESIA (PÁG. 48)
Trajetório Poética do Ser
GALERIA DE FOTOS
HISTÓRIA DA MEDICINA (PG. 29)
Como é bom ser bom
José Martins Fontes
Como é bom ser bom
Médico renomado e um dos maiores poetas da língua portuguesa, simples, acolhedor
e filantropo, ele é, até hoje, venerado pelo povo da Baixada Santista, onde chegou a ser
comparado ao “Sol da região”
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade. De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.
Quem passa pela conhecida rua Martins Fontes, no centro da cidade de São Paulo, geralmente não tem a menor ideia de quem é a pessoa que dá nome à via. É uma pena, pois José Martins Fontes é um personagem bastante interessante, que marcou a história do Estado de São Paulo na Medicina e na poesia, tendo sido homenageado ainda com nome de escolas e livrarias, além de outras ruas.
Médico renomado e reverenciado, Martins Fontes foi também um grande e reconhecido poeta brasileiro. Para ele, as duas atividades se completavam. Na Medicina, destacou-se como conferencista, humanista e especialista no tratamento da tuberculose. Sua
obra é volumosa, chegando a mais de 70 títulos publicados em poesia, prosa e literatura científica. É, também, patrono da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e da Academia de Medicina de São Paulo.
Martins Fontes nasceu em 23 de junho de 1884, na cidade de Santos (SP), onde viveu, até a adolescência, com seus pais, Isabel Martins Fontes e Silvério Martins Fontes. Além de ser alfabetizado pela mãe, intercalou seus estudos primários entre as cidades de Jacareí (SP) e do Rio de Janeiro (RJ). Na sociedade, era conhecido pelos seus dois últimos nomes. Já pelos amigos e familiares, acostumou- se a vida inteira a ser chamado de Zezinho.
A habilidade na arte da escrita veio cedo. Ainda antes de completar quatro anos de idade, declamava discursos pelas janelas de casa. Aos oito anos, em um jornal manuscrito, intitulado A Metralha, Fontes publicou seus primeiros versos. A publicação perdurou por nove domingos, com o cabeçalho feito pelo avô, o coronel Francisco Martins dos Santos.
Iniciou os estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1901. Durante o período de estudante, trabalhou em alguns jornais cariocas, como a Gazeta de Notícias e O País. Também foi interno da Santa Casa carioca e auxiliou Oswaldo Cruz na campanha de saneamento do Rio de Janeiro.
Carreira brilhante
Formado, Fontes passou a dedicar-se aos estudos em Saúde Pública. Trabalhou, primeiramente, na Santa Casa de Misericórdia de Santos, como tisiologista. Depois, na Beneficência Portuguesa de Santos, como inspetor sanitário do Estado, delegado de Saúde e diretor do Serviço Sanitário.
Empenhou-se, junto com Oswaldo Cruz, na defesa sanitária da cidade de Santos. Durante uma epidemia de gripe, em 1918, desdobrava- se para socorrer os bairros mais precários. Dedicava, também, alguns dias da semana para atender pessoas que não tinham condições financeiras de pagar pelas consultas.
A partir de 1924, tornou-se correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e, depois, titular. Ao longo da vida, recebeu os títulos de comendador da Ordem de São Tiago da Espada, Ordem de Cavalheiro da Espanha, Par da Inglaterra e Grã-Cruz da Ordem de São Tiago da Espada, conferida pelo presidente da República de Portugal. Junto com Olavo Bilac, fundou a “Agência Americana”, para serviços de propaganda
dos produtos brasileiros na Europa e em outros países, durante um período em que ambos residiram em Paris. Lá, conheceu Nicota Teles, com quem foi casado durante pouco tempo. Sua curiosidade e inquietação levou-o também a fazer um trabalho sanitário no Acre.
Temas universais
Fontes escreveu para os jornais A Gazeta e Diário Popular, em São Paulo, e para o Diário de Santos e o Cidade de Santos. Seu primeiro livro de poesia, Verão, foi publicado em 1917. Logo depois, publicou Marabá (1921), Arlequinada (1922), Rosicler (1928), A Flauta Encantada (1931), Paulistânia (1934), Canções do Meu Vergel (1937) e Calendário Positivista (1938), entre outros.
Estudiosos localizam sua obra no movimento parnasiano, que, no Brasil, estendeu-se de 1882 a 1922, e tinha como característica principal a abordagem de temas universais, como o amor, o tempo, a natureza e a poesia.
O poeta Cassiano Ricardo classificou Martins Fontes como “um incontido, não aceitou a língua comum, tentou uma linguagem caracteristicamente sua”. Já Péricles Eugênio da Silva Ramos, também poeta, disse que o autor “no anseio de conquistar uma expressão pessoal, e de inovar, cultivou as mais variadas formas e inventou grande cópia de palavras”.
Como é bom ser bom
José Martins Fontes
Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.
Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.
Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.
E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.
O filme
Na comemoração dos 133 anos do nascimento de Martins Fontes, uma produção cinematográfica de época foi lançada para homenagear o médico e poeta. O filme, com 20 minutos de duração, foi dirigido pelo cineasta santista Carlos Oliveira. O nome escolhido para o título é Como é bom ser bom, o mesmo de um dos poemas mais conhecidos do autor.
O roteiro foi escrito pelo ator Osvaldo Araújo e é baseado em uma história real. No filme, a personagem Dona Nízia, mãe de quatro filhos órfãos de pai, não tinha recursos para pagar o tratamento de uma grave doença. Em seu consultório particular, Fontes praticava a filantropia e a tratava sem cobrar pelas consultas. Nízia pagava com queijadinhas que fazia para vender. O médico também atendia, de vez em quando, doentes de navios que atracavam no Porto de Santos.
Homenagens
Aos 53 anos de idade, Martins Fontes faleceu em Santos, em 25 de junho de 1937. Tamanha notoriedade e a veneração da população fizeram com que sua morte causasse grande impacto na cidade. Seu túmulo é um dos mais visitados na Baixada Santista e muitos acreditam que o poeta continua a espalhar bondade, mesmo após a sua morte, atendendo às preces que lhe são dirigidas.
Sua popularidade teve origem, também, no jeito simples e acolhedor com que tratava a todos. O jornal A Tribuna de Santos, na ocasião de sua morte, sintetizou o pesar do povo santista: “a cidade de Santos vestiu-se de luto, porque acaba de desaparecer aquele que, na verdade, era o Sol da nossa terra”.
Em biografia da Academia de Medicina de São Paulo, Martins Fontes é descrito como a maior parte de seus admiradores o faria: “Boêmio, irrequieto, marcava sua presença por onde passava. Possuidor de delicada sensibilidade e de esmerada educação, sabia fazer de cada criatura que encontrasse um admirador exaltado de suas qualidades de poeta, médico e ser humano”.
Colaborou: Julia Martins