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PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp


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Peggy Cohen-Kettenis


CRÔNICA (pág. 10)
Tufik Bauab*


EM FOCO (pág. 12)
Informação científica


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Por que as cotas raciais são importantes? - Aureliano Biancarelli


CONJUNTURA (pág. 24)
Qualidade de vida


CARTAS E NOTAS (Pág. 27)
Cremesp facilita localização de pessoas desaparecidas


HISTÓRIA DA MEDICINA (Pág. 28)
Patrimônio histórico


GIRAMUNDO (Pág. 32 e 33)
Avanços da ciência


PONTO COM (Pág. 34 e 35)
Mundo digital & tecnologia científica


SINTONIA (Pág. 36)
Literatura & Medicina


TURISMO (págs. 40 a 43)
Aurora boreal


CULTURA (págs. 44 a 47)
O Rubaiyat de Omar Khayyam


FOTOPOESIA (pág. 48)
Ano Novo


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Edição 77 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2016

CULTURA (págs. 44 a 47)

O Rubaiyat de Omar Khayyam

O Rubaiyat de Omar Khayyam

 

Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho,

senta-te ao luar, e pensa:

Talvez amanhã a lua me procure em vão.

 Fátima Barbosa*

 

 

Omar Khayyam, o autor deste poema, embora não pareça, escreveu-o há quase mil anos. A contemporaneidade de sua poesia, após atravessar tantos séculos, evidencia o quão à frente de sua época ele estava. Todos os seus inspirados poemas têm o mesmo formato, denominado rubaiyat, plural da palavra persa rubai, cujo significado é quadra ou quarteto. Mas seu legado não se limitou à literatura. Matemático e astrônomo, como era mais conhecido em seu tempo, ele deixou importantes obras nas duas áreas, que fazem dele um dos mais importantes cientistas do mundo árabe na Idade Média. Foi, também, filósofo e médico, embora sejam raras as informações a esse respeito. Ainda hoje há controvérsias se foi mais importante como homem da ciência ou como poeta. Ao que ele poderia responder com um de seus rubaiyat:

 

O vasto mundo: um grão de areia no espaço.

A ciência dos homens: palavras. Os povos,

os animais, as flores dos sete climas: sombras.

O profundo resultado da tua meditação: nada.

Ou

Não pedi para nascer. Recebo, sem espanto ou ira,

o que a vida me entrega. Um dia hei de partir;

não me importa saber qual o motivo

da minha misteriosa passagem pelo mundo.

 

Em um mundo tomado por radicalismos religiosos e políticos, permeado por guerras, Omar Khayyam ousou desafiar dogmas de maneira lírica e onírica, sem deixar de ser preciso, contundente ou mordaz. Sobre ele, o autor das traduções dos rubaiyat ao lado, Alfredo Braga, escreveu: “Um homem erudito e sofisticado, que sabe da assombrosa trajetória dos astros, da pureza da rigorosa geometria, e da elegante álgebra, que percebe a inconsequente soberba dos homens sábios (e a dos outros) e caminha entre rosas, tulipas, lindas mulheres e finos vinhos”. Em sua época, considerava-se que apenas Avicena, tido como o mais influente filósofo, médico e cientista do Islã, o superava em ciências.

Desde que o escritor inglês Edward Fitzgerald fez, em 1859, a primeira tradução do persa para o inglês, de seus cerca de 600 versos – que haviam permanecido praticamente desconhecidos no mundo ocidental por quase 800 anos –, sua obra rapidamente ganhou destaque na literatura mundial e influenciou poetas e escritores do porte de Fernando Pessoa e Jorge Luís Borges. A tradução de Fitzgerald foi feita a partir, dentre outros documentos, de um manuscrito de Khayyam, com 158 versos, que se encontra na Biblioteca Bodleiana, da Universidade de Oxford.

A multiplicidade de traduções d’O Rubaiyat de Omar Kkayyam, como a obra ficou conhecida desde então, levaram a polêmicas sobre a qualidade de várias delas. Em inglês, a de Fitz­gerald continua sendo a mais respeitada. Em português, além da realizada por Alfredo Braga, há outras três, feitas por Manuel Bandeira, Octavio Tarquinio de Sousa e Eno Theodoro Wanke.

Materialista ou sufista?

Outra polêmica que envolve Omar Khayyam é se ele era materialista ou sufista. O sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de práticas que não seguem um padrão fixo, podendo incorporar orações, jejuns, cânticos, música e movimentos, que, para alguns, lembram algumas práticas da meditação por meio da ioga.


Ah! Enche o Copo! De que serve repetir
que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?
O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,
por que me hei de importar, se o dia de hoje é lindo?

Para Fitzgerald, ele era um materialista antireligioso, que acreditava que o único significado da vida era o vinho, a música e os prazeres mundanos. “Tendo fracassado em suas tentativas de encontrar alguma outra Providência que não fosse o Destino ou outro mundo distinto deste, tratou de obter o máximo proveito de tal situação, preferindo aliviar sua alma por meio dos sentidos e da visão das coisas que esses lhe ofereciam (...). Parecia experimentar um prazer humorístico ou perverso ao exaltar a gratificação dos sentidos em detrimento do intelecto, dos quais deve ter obtido grande deleite, ainda mais ao se ver incapaz de responder às questões nas quais, assim como todos os seres humanos, encontrava-se interessado (...)”, afirmou o tradutor.


Capa da edição espanhola do livro de Paramahansa Yogananda, 
sobre a obra de Omar Khayyam

Já segundo o escritor e yogui Paramahansa Yogananda, autor do livro El vino del místico – El Rubaiyat de Omar Khayyam, una interpreta­ción espiritual, na versão em espanhol, Khayyam “sempre foi considerado, na Pérsia, um mestre místico bastante avançado”. Ele cita o professor Charles F. Horne, que também classificou o escritor e cientista persa como sufista: “Lamentavelmente, um imenso número de leitores ocidentais chegou a considerar Omar como um poeta erótico e pagão, um bebedor contumaz, interessado unicamente no vinho e nos prazeres terrenos. Isto é típico da confusão que existe sobre o sufismo. (...) Os elogios ao vinho e ao amor são simplesmente metáforas solidamente estabelecidas do sufismo; o vinho é o gozo do espírito; e o amor é o êxtase da devoção a Deus (...)”.

Biografia

Khayyam – que significa fabricante de tendas, aparentemente em referência à profissão de seu pai, Ibrahim – nasceu em Nishapur, também conhecida como Nixapur ou Neishabur, na Pérsia, hoje Irã, em 18 de maio de 1048. O poeta e cientista viveu, praticamente a vida inteira, em meio a uma tumultuada conjuntura política e religiosa, marcada por guerras tribais. Extremamente inteligente e dono de uma prodigiosa memória, ele recebeu uma boa educação em ciências e filosofia, em sua terra natal, e em Balk, outra cidade iraniana.


Mausoleu de Omar Khayyam, em Nishapur; no Irã - Artimparsi
 

Após se formar, seguiu para Samarcanda, hoje localizada no Uzbequistão, onde – sob a proteção de um abastado médico – completou um importante tratado em álgebra. Mais tarde, conseguiu um posto na corte do sultão Seljuq Malik-Shah, que incluía prestar serviços como médico pessoal do soberano. Aos 25 anos, já havia se tornado diretor de um observatório astronômico e escrito vários tratados sobre matemática e física. Colaborou, também, na reforma do calendário persa, que resultou em um novo, ainda mais exato que o gregoriano.

Como matemático e geômetra, Khayyam foi autor de vasta obra, da qual restam apenas dois volumes: Tratado de algumas dificuldades das definições de Euclides e as Demonstrações dos problemas de álgebra. Entre suas principais contribuições à matemática estão a solução de equações de segundo grau e a demonstração da impossibilidade de resolução de equações de terceiro grau com números inteiros. Interessava-se, ainda, por história, idiomas, astrologia, mecânica e cerâmica.

Com a morte de seu protetor, Malik-Shah, perdeu o posto e, após uma peregrinação a Meca, retornou à sua cidade natal, onde passou a dar aulas e fazer previsões astronômicas. Porém, pouco se sabe sobre seus últimos 16 anos de vida, quando, presume-se, viveu como um eremita. Nessa época, teria escrito muitos de seus rubaiyat. Morreu em 4 de dezembro de 1131, em Nishapur, onde sua tumba, que resistiu a diversas calamidades, está conservada sob um magnífico mausoléu.

Fontes: conferir à pág. 27 desta edição.


 

 Alguns rubaiyat de Khayyam

 (Tradução livre de Alfredo Braga)

 

Acorda... e olha como o sol em seu regresso

vai apagando as estrelas do campo da noite;

do mesmo modo ele vai desvanecer

as grandes luzes da soberba torre do Sultão.

 

Que o teu saber não humilhe o teu próximo.

Cuidado, não deixes que a ira te domine.

Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;

não firas ninguém.

 

Além da Terra, pelo Infinito,

procurei, em vão, o Céu e o Inferno.

Depois uma voz me disse:

Céu e Inferno estão em ti.

 

Como o rio, ou como o vento,

vão passando os dias.

Há dois dias que me são indiferentes:

O que foi ontem, o que virá amanhã.

 

Quando me falam das delícias que na outra vida

os eleitos irão gozar, respondo:

Confio no vinho, não em promessas;

o som dos tambores só é belo ao longe.

 

Se em teu coração cultivaste a rosa do amor,

quer tenhas procurado ouvir a voz de Deus,

ou esgotado a taça do prazer,

a tua vida não foi em vão.

 

Um jardim florido, uma bela mulher, e vinho.

Eis o meu prazer e a minha amargura,

o meu paraíso e o meu inferno.

Mas quem sabe o que é Céu e o que é Inferno?

 

Ouve o que a Sabedoria diz todos os dias:

A vida é breve.

Não te esqueças, não és como certas plantas

que rebrotam depois de cortadas.

 

*Editora da Ser Médico


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