CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
João Ladislau Rosa - Presidente
ENTREVISTA (págs.4 a 9)
Adriane Fugh-Berman
CRÔNICA (págs.10 a 11)
Sady Ribeiro*
EM FOCO (págs. 12 a 15)
História da Telemedicina no SUS
ESPECIAL (págs. 16 a 21)
Hospitais verdes
MÉDICOS NO MUNDO (págs. 22 a 26)
O atendimento no acampamento de refugiados em Dagahaley (Quênia)
CONJUNTURA (págs. 27 a 28)
Álcool e direção: dupla perigosa
HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 29 a 31)
Primeiros médicos no Brasil
GIRAMUNDO (pág. 32 a 33)
Curiosidades interessantes
PONTO COM (pág. 34 a 35)
Informações do mundo digital
SINTONIA (pág. 36 a 37)
Números na Saúde
HOBBY (pág. 38 a 41)
Xadrez
CULTURA (págs. 42 a 46)
Museu da Cidade de São Paulo
CARTAS & NOTAS (pág. 47)
LEITORES
FOTOPOESIA (pág.48)
Alvaro Posselt
GALERIA DE FOTOS
HOBBY (pág. 38 a 41)
Xadrez
Um jogo para se pensar
Médicos venceram vários campeonatos brasileiros de xadrez
Dos jesuítas, que o trouxeram para o Brasil, às partidas online, o xadrez continua um jogo com poucos adeptos em nosso País, apesar de suas inúmeras qualidades. E, entre o número relativamente pequeno de adeptos, há muitos médicos, inclusive alguns dos mais expressivos jogadores brasileiros, como Walter Osvaldo Cruz. Hematologista, pela Faculdade Nacional de Medicina, ele foi seis vezes campeão brasileiro e três vezes vice-campeão.
Com mais conquistas do que Walter, só o também médico Souza Mendes. Nascido em Portugal e naturalizado brasileiro, foi sanitarista do Instituto Osvaldo Cruz, otorrinolaringologista, e introdutor da cirurgia plástica regenerativa da face no Brasil. Ele venceu sete vezes o campeonato brasileiro, inclusive o primeiro, em 1927, e foi vice-campeão por três vezes.
O médico Belfort Mattos foi campeão brasileiro e paulista
Entre os muitos outros médicos que se dedicam ao esporte, destaca-se, também, José Neddermeyer Belfort Mattos. Graduado pela Faculdade de Medicina da PUC de Sorocaba e especializado em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina, foi campeão brasileiro, em 1963, e paulista, em 1962. A dedicação ao xadrez está enraizada na família. “Tudo começou com o meu avô, que era alemão, Jorge Neddermeyer. Ele passou o amor pelo xadrez para a minha mãe, Jessy, e chegou até a mim. Com seis anos de idade, eu já havia aprendido os movimentos básicos do jogo”.
Belfort é o atual presidente do Clube de Xadrez de São Paulo, fundado em 1902, que ele frequenta há 60 anos, desde quando começou a jogar, aos 14 anos de idade, no nível amador. Sobre a vitória no campeonato brasileiro e no paulista, comenta: “era uma época em que eu estava focado, jogava duas horas por dia e ainda conseguia conciliar com a faculdade”. Mas, no quarto ano de Medicina, a dedicação à profissão começou a prevalecer e ele parou de participar de competições e diminuiu a sua frequência de jogos. Desde então, estuda xadrez sempre que pode e reproduz algumas partidas que pesquisa em livros e na internet. “É um esporte que exige muita dedicação e tempo, e a Medicina também, por isso decidi optar pela prática médica”.
Acima: sede do Clube de Xadrez de São Paulo, onde são realizados torneios, aulas e eventos. A seguir, troféu do Campeonato Interclubes (Categoria B - 3º colocado),
de 2005
O mesmo aconteceu com Plínio Nunes Dias de Oliveira, formado pela Escola Paulista de Medicina, e especializado em neurologia. Tendo alcançado o nível intermediário, disputava campeonatos universitários no início da faculdade. “Cheguei a jogar cinco horas por dia, participava de campeonatos, viajava para muitos lugares, e conseguia conciliar com a faculdade, pois as competições aconteciam em época de férias”. O médico conta que, além das disputas universitárias, jogou também em torneios paulistas e brasileiros, chegando a vencer uma edição do campeonato nacional por equipe, na cidade de Fortaleza, em julho de 1972.
Seu primeiro contato com o xadrez foi aos nove anos, em Araraquara, onde aprendeu as noções básicas, mas só começou a jogar aos 12 anos. “Nessa época, minha família veio para São Paulo, onde conheci o Clube de Xadrez. Comecei, então, a aprender a jogar com quem já frequentava o local”, relata.
Porém, por causa da falta de tempo para dedicar-se à Medicina e ao xadrez, concomitantemente, precisou, na época de residência, escolher um dos dois, mas nunca deixou de acompanhar o esporte. “Quase atingi o nível profissional, mas não tinha como conciliar com a faculdade e, então, parei. Passei a jogar como hobby. Quem gosta de xadrez nunca o abandona”, garante.
Biblioteca do Clube de Xadrez de São Paulo
Ambos os médicos acreditam que o esporte traz inúmeros benefícios que podem ser direcionados para a Medicina, como o exercício do raciocínio e concentração. Para os jogadores que participam de campeonatos, as viagens e as novas amizades são outros atrativos. “Conheci muita gente jogando xadrez. Cheguei a recepcionar russos e tive contato com muitas pessoas quando fui juiz de campeonatos internacionais. Além das novas amizades, o xadrez me ensinou, de certa forma, a planejar e analisar riscos, além de exercitar a memória, o que é importantíssimo para a Medicina”, ressalta Oliveira.
A falta de incentivo ao esporte no País tem motivos culturais, avalia o médico. “O xadrez é um jogo que acontece dentro de uma sala, em silêncio, só quem pode acompanhar é quem entende o que está acontecendo ali. É um esporte restritivo e o Brasil não tem tradição no xadrez”. Para Oliveira, seria necessário incentivar as crianças, objetivando, principalmente, os benefícios que o xadrez traz, como concentração e memória.
Segundo Belfort, o Brasil não tem estímulos nem verbas para o ensino e a difusão do esporte. “Existem espaços para isso, como os clubes, mas não recebem incentivos para estimular o jogo”, lamenta o oftalmologista.
Uma modalidade que não acontece mais nos dias de hoje, e que chegou a ter muitos adeptos, principalmente nos países de invernos rigorosos, é o “xadrez epistolar”, ou, por correspondência – no qual cada jogador enviava a sua jogada por cartas. “Era uma maneira de jogar com gente que estava em outro país. Hoje não tem sentido jogar dessa maneira, ainda mais com o advento da internet. As partidas chegavam a durar um ano inteiro. Atualmente não tem porque demorar um dia para enviar uma jogada”, diz Plínio.
O mais antigo das Américas
Atualmente, existem 18.641 enxadristas cadastrados na Confederação Brasileira de Xadrez (CBX). No Estado de São Paulo, os adeptos da modalidade são 3.826. Além dos diversos clubes e instituições associadas, a CBX reúne 20 associações do esporte. São realizados, no País, 117 torneios.
O Clube de Xadrez de São Paulo (CXSP) – declarado como “Utilidade Pública pelo governo do Estado”, em 1952 – é o mais antigo das Américas e está entre os mais antigos do mundo. É o único clube brasileiro que possui sede própria, localizada na Rua Araújo, 154, 3º andar, próximo ao metrô República, na capital paulista. Qualquer pessoa pode associar-se ao CXSP e participar dos torneios, aulas e eventos. Mais informações podem ser obtidas no site: www.cxsp.com.br
(Colaborou: Fátima Lopes)