CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
João Ladislau Rosa - Presidente
ENTREVISTA (págs.4 a 9)
Adriane Fugh-Berman
CRÔNICA (págs.10 a 11)
Sady Ribeiro*
EM FOCO (págs. 12 a 15)
História da Telemedicina no SUS
ESPECIAL (págs. 16 a 21)
Hospitais verdes
MÉDICOS NO MUNDO (págs. 22 a 26)
O atendimento no acampamento de refugiados em Dagahaley (Quênia)
CONJUNTURA (págs. 27 a 28)
Álcool e direção: dupla perigosa
HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 29 a 31)
Primeiros médicos no Brasil
GIRAMUNDO (pág. 32 a 33)
Curiosidades interessantes
PONTO COM (pág. 34 a 35)
Informações do mundo digital
SINTONIA (pág. 36 a 37)
Números na Saúde
HOBBY (pág. 38 a 41)
Xadrez
CULTURA (págs. 42 a 46)
Museu da Cidade de São Paulo
CARTAS & NOTAS (pág. 47)
LEITORES
FOTOPOESIA (pág.48)
Alvaro Posselt
GALERIA DE FOTOS
SINTONIA (pág. 36 a 37)
Números na Saúde
Não fuja deles
Alex Jones Flores Cassenote*
A escolha de um curso superior na área da saúde é, certamente, uma marca da aptidão em relação às ciências biológicas e disciplinas afins nos estudos em níveis mais básicos. Por isso, não é incomum a indignação de estudantes recém-chegados ao ensino superior quando descobrem que deverão dedicar seus primeiros semestres de estudos a disciplinas como Bioestatística e Epidemiologia. Não é incomum, tampouco, que profissionais tenham extrema dificuldade, ou “quase pavor”, de lidar com questões que envolvem conhecimentos prévios dessas disciplinas. Isso faz com que eles não consigam aproveitar o desenvolvimento científico crescente vivenciado pelas ciências da saúde.
Em linhas gerais, a Estatística é uma disciplina das ciências formais – despida de objeto, tratando apenas da estrutura conceitual, lógica e epistemológica do conhecimento – à qual as diferentes ciências empíricas (com objeto definido) recorrem para melhor conhecer os assuntos de seu interesse. Deste modo, o prefixo “bio” para Bioestatística busca apenas dar-lhe o sentido de aplicação às ciências biológicas e da saúde, não havendo nada de conceitualmente diferente.1
Desde seu nascimento, a Estatística foi influenciada por diversas áreas do conhecimento, mas guarda uma relação especial com as ciências biológicas. Foi com Francis Galton (1822–1911) e Karl Pearson (1857–1936) – e suas pesquisas em ciências biológicas – que surgiram as proposições de coeficiente de correlação como medida de associação e a famosa estatística qui-quadrado. Eles foram os precursores de uma estatística mais parecida com a que temos.
A Epidemiologia se destaca mais no desenvolvimento metodológico para todas as ciências da saúde, ampliando seu papel na consolidação de um saber científico, seus determinantes e suas consequências. Conceitualmente, a disciplina estuda a distribuição das doenças na população e os fatores que a influenciam e a determinam. A premissa fundamental é que as doenças ou ausência de saúde não são distribuídas aleatoriamente na população, podendo ser preditas por fatores que predispõem ou protegem contra a ocorrência das doenças.
O trabalho que marcou o início formal da Epidemiologia – e, ao mesmo tempo, uma de suas mais espetaculares conquistas – foi o estabelecimento, pelo médico John Snow (1813-1858), da relação entre o risco de se contrair o cólera e o consumo da água de uma fonte específica, mesmo antes da descoberta do agente etiológico responsável pela doença.
Após a superação da era bacteriológica, estudos como os de Richard Doll e Andrew Hill (que estabeleceram associação entre o tabagismo e o câncer de pulmão) e os famosos estudos de doenças cardiovasculares desenvolvidos na população da cidade de Framingham (EUA) representaram os exemplos da aplicação do método epidemiológico em doenças crônicas. Foi a partir daí que essa disciplina sedimentou-se da maneira como está colocada, atualmente, nos currículos médicos e da área da saúde.
Essas disciplinas têm utilidade não somente para os pesquisadores que desejam publicar seus achados mas, especialmente, para os estudantes e profissionais que representam os consumidores da pesquisa. Cientificamente, a comunicação está sendo feita no “idioma” dessas disciplinas. É assim que se fala, por exemplo, como o trabalho foi realizado e se os resultados tiveram significância, sob a ótica estatística (exemplo abaixo).
O texto foi escrito em inglês, mas alguns itens fazem parte não da estrutura linguística do idioma, mas das disciplinas referidas. Sem o domínio desses conceitos, dificilmente um leitor, mesmo que fluente no idioma inglês, conseguirá compreender o que essa comunicação está trazendo a público. Talvez seja esse o grande desafio das universidades. Como, a cada dia, se produz uma quantidade de conhecimento similar que, antes, demorava décadas, o que realmente terá impacto na vida futura dos profissionais é o “ensinar a aprender”, ou tornar os indivíduos autossuficientes para consumir o que for necessário para a execução da sua prática.
Dessa forma, vários papéis são importantes: professores de Bioestatística e de Epidemiologia devem apresentar as disciplinas de forma atrativa, mostrando seus objetivos e aplicabilidades. Professores das áreas básicas e clínicas devem contextualizar seu conteúdo específico, apresentando e discutindo também os aspectos metodológicos, sempre que possível, resgatando conceitos e não deixando estes como algo exclusivo de uma disciplina. Alunos e profissionais não devem tratar a compreensão das fórmulas e definições como impossível – esforços precisam se concentrar na compreensão do conceito. Buscar exemplos que façam sentido no seu dia a dia também pode ajudar. Essas iniciativas irão contribuir para a formação de um profissional que tomará decisões baseadas não somente na sua visão empírica, mas também no conhecimento científico.
“(…)Six hundred and sixty-nine women aged 20-55 years were studied through a cross-sectional design. Detailed anthropometric measurements were obtained according to standardized procedures. Body mass index (BMI) >= 30 kg/m(2) and the third tertile of six skinfold sums (SKF sum) were treated as dependent variables. High SHSR was defined as values >= mean + 1 SD. Data analysis was performed using nonconditional hierarchical multivariate logistic regression, estimating adjusted odds ratios (OR) and 95% confidence intervals (95% CI) for the dependent variables. Thirty-two percent of women who had high SHSR had low stature, compared with 13.8% in the group with normal SHSR (P < 0.000). After adjustment for age…, high SHSR was still associated with BMI >= 30 kg/m(2) (OR, 2.46; 95% CI, 1.31-4.60) and SKF sum (OR, 2.11; 95% Cl, 1.33-3.35) (…)”
*Epidemiologista, assessor do Centro de Dados e Pesquisas do Cremesp e doutorando da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
1 PEREIRA, J. C. R. Bioestatística em outras palavras. São Paulo: Edusp; 2010.