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Marci L. Bowers e Ben Barres


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Marcelo Rubens Paiva*


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Ciências humanas na prática médica


SUSTENTABILIDADE (págs. 17 a 20)
Água pode conter contaminantes endócrinos


ESPECIAL (págs. 21 a 27)
Conheça os processos de revalidação em outros países


MÉDICOS NO MUNDO (págs. 28 a 31)
Síria em guerra


GIRAMUNDO (págs. 32 a 33)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


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Informações do mundo digital


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Médico faz em média quatro grandes viagens por ano


CULTURA (págs. 41 a 43)
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GOURMET (págs. 44 a 47)
Médico prepara jambalaya creole


FOTOPOESIA (pág. 48)
Feliz 2014!


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Edição 65 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2013

MÉDICOS NO MUNDO (págs. 28 a 31)

Síria em guerra

Sob fogo cruzado

Profissionais da saúde viraram alvo em meio ao sangrento conflito, mas, vinculados a organizações humanitárias, muitos deles não desistem de levar assistência à população, mesmo com infraestrutura precária


Exercer a Medicina e demais profissões da Saúde em grande parte do território sírio é, há dois anos, colocar-se em meio ao fogo cruzado. Contudo, mesmo diante dos enormes desafios, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros membros das organizações humanitárias Médicos sem Fronteiras (MSF), Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e seu braço nos países muçulmanos, o Crescente Vermelho; e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) tentam, de forma quase quixotesca, atender à população da Síria em meio ao caos.

“A assistência médica está sendo alvo nessa guerra. As pessoas na Síria arriscam suas vidas para buscar e oferecer cuidados de saúde. Diante das atuais circunstâncias, não podemos atuar com nossa capacidade máxima”, alertou o médico Mego Terzian, presidente da organização não governamental MSF/França, perante reunião na ONU. As extremas dificuldades e riscos são confirmados pela Acnur e pelo CICV.

A sangrenta guerra civil na Síria começou há mais de dois anos e já matou cerca de 100 mil pessoas, segundo cálculos feitos em setembro por essas organizações. O conflito também provocou o êxodo de mais de 4 milhões de pessoas, destruiu cerca de 400 mil casas e danificou mais de 1 milhão delas. Também foram arrasadas ou danificadas 5,5 mil escolas e 3,8 mil mesquitas.




Pacientes feridos, como a criança acima, têm prioridade, mas organizações tentam  fornecer também cuidados de saúde primária


Sequestros
De acordo com a Acnur, cerca de 15 mil médicos fugiram do país, “deixando uma aguda escassez de profissionais”. Atitude humanamente compreensível quando se sabe que muitos deles foram feridos deliberadamente, sequestrados ou detidos quando desempenhavam suas tarefas. Há poucas semanas, 22 voluntários de uma equipe de saúde do Crescente Vermelho Árabe foram mortos.

A infraestrutura de saúde também encontra-se em uma situação dramática. Os hospitais não têm leitos disponíveis, 57% deles estão danificados, e 60% das ambulâncias estão fora de serviço. “Há uma grave escassez de material médico vital, alimentos e água em inúmeras áreas que estiveram inacessíveis durante meses, e nas quais o CICV e o Crescente Vermelho Árabe Sírio não puderam entrar”, informam. “Em grande parte da região rural da capital síria, Damasco, por exemplo, as pessoas estão morrendo por falta de material médico e de pessoal de saúde suficiente para atendê-las. Elas também estão com fome, porque a ajuda não chega de modo regular”, alertam. Nas áreas atingidas pela violência, acrescentam, “a interrupção dos serviços básicos, como o fornecimento de eletricidade, água e a coleta de lixo só pioram a terrível situa­ção”. A Acnur chamou a atenção também para o empobrecimento de milhões de sírios, o que potencializa os problemas de saúde, em decorrência da subnutrição.

Diante do cenário de extrema vulnerabilidade, a MSF – que havia sido expulsa da Síria no início da guerra – voltou a adentrar seu território em junho de 2012, ainda que sem autorização do governo. Equipes da organização passaram a oferecer cuidados de emergência à população afetada pela guerra, no norte do país, em regiões sob o controle das forças de oposição ao governo. Foi feito um grande esforço logístico em relação às questões de segurança para não atrair a atenção e não se tornar alvo de violência. “Com o apoio de um grupo de médicos sírios, optamos por atuar em um casarão vazio. Por seis dias, trabalhamos arduamente para transformar aquele lugar em um hospital cirúrgico”, conta Anna Nowack, cirurgiã de MSF.

No início, a MSF concentrou esforços na prestação de serviços de emergência, como cirurgia para feridos de guerra, mas as atividades tiveram de ser ampliadas, abrangendo consultas voltadas para a saúde primária, cuidados de saúde materna, campanhas de vacinação, cuidados de saúde mental e tratamento de doenças infecciosas e crônicas, como diabetes e hipertensão. Em meio à guerra, pacientes crônicos ficaram sem acesso a medicamentos essenciais e tiveram de interromper seus tratamentos. “Nossa equipe trabalhava em uma caverna. Dentro, havia uma tenda inflável para cirurgias e seis leitos de emergência. Muitas vezes, era tumultuado e difícil, mas, ainda assim, foi incrível ter conseguido criar um ambiente estéril, com os equipamentos cirúrgicos necessários, em uma caverna empoeirada”, relata outro cirurgião da MSF, Paul McMaster.

Atualmente, a organização mantém cinco hospitais no norte da Síria, dois deles na região de Idlib, alvo de ataques aéreos por meses, que concentra grande número de pessoas em acampamentos para refugiados. Na província de Aleppo, administra uma clínica geral, com sala de emergência, sala de parto, centro cirúrgico e ambulatório. Desde o início de março, mantém também uma clínica em Al Hasaka para tratar casos de trauma e serviços pós-operatórios. No distrito de Tal Abyad há uma clínica de saúde primária. Ali, a MSF está estruturando também uma unidade pediátrica. Ao todo, conta com 325 profissionais de saúde, entre estrangeiros e locais. Suas equipes realizaram, até junho deste ano, 2.481 cirurgias, 46.123 consultas, 854 partos; e vacinaram dezenas de milhares de crianças, além de distribuir mais de 166 toneladas de suprimentos e equipamentos médicos.

Entretanto, em relatório divulgado à imprensa, a MSF afirma ter “plena consciência de que é preciso ir além dos esforços já despendidos para responder a essa crise”. A organização continua em contato com o governo sírio em Damasco, na tentativa de obter autorização formal para levar ajuda neutra, imparcial e independente a todo o país. “As demandas são enormes e muito ainda pode ser feito na tentativa de aliviar o sofrimento de tantas pessoas”, conclui.
 



Refugiados




 

O drama das pessoas que saíram de suas casas, a maioria apenas com a roupa do corpo, é um outro lado da guerra. Segundo a Acnur, cerca de 1,6 milhão de sírios deixou o país em busca de segurança em países vizinhos – Líbano, Jordânia, Iraque e Turquia. O número continua a crescer. Famílias inteiras dependem da generosidade das comunidades locais e da ajuda humanitária oferecida pelas organizações internacionais. Depois de longa e exaustiva jornada, elas enfrentam uma situação caótica nos campos de refugiados. Com acesso restrito a água e saneamento, tornam-se vulneráveis a doenças transmissíveis e respiratórias. Contudo, a prioridade tem de ser dada aos feridos. Há necessidade também de cuidados de saúde mental.

“Diversas pessoas me disseram que não sabem mais do que se trata essa guerra. Estão aterrorizadas com a ideia de estarem lutando contra vizinhos e amigos. No início, parecia haver algum propósito, mas, dois anos depois, nada mais resta. Elas apenas querem que tudo acabe para que possam voltar às suas casas”, lamenta a psicóloga da MSF, Audrey Magis.

 


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