CAPA
EDITORIAL
Ponto de Partida
ENTREVISTA
Roberto Sávio é o convidado especial desta edição
CRÔNICA
Rubem Alves
BIOÉTICA
Giovanni Berlinger
EM FOCO
Clínica ou Cirurgia? Eis a questão
DEBATE
Aprendizagem baseada em problemas
JUSCELINO KUBITSCHEK
O médico que virou Presidente
HISTÓRIA DA MEDICINA
São Lucas, o médico evangelista
LIVRO DE CABECEIRA
O segredo dos médicos antigos
GOURMET
Pequi: bom demais da conta
CULTURA
Jairo Arco e Flexa
CARTAS & NOTAS
Novas publicações do Cremesp
POESIA
Adriana e Luis Orlando Rotelli Resende
GALERIA DE FOTOS
LIVRO DE CABECEIRA
O segredo dos médicos antigos
O segredo dos médicos antigosGlasdstone Machado
O livro “O Segredo dos Médicos Antigos”, de autoria de Jürgen Thorwald, apresenta interessantes considerações sobre a Medicina pré-histórica nas antigas civilizações do Egito, Babilônia, Índia, China, México e Peru, e é ricamente ilustrado. Também traz evidências de uma medicina tão desenvolvida quanto a grega, sobrepujando-a em alguns aspectos e modificando a idéia, do mundo ocidental, de que os gregos haviam sido os pioneiros na arte de curar.
O autor, nascido na Alemanha em 1916, é formado em Medicina e História, escreveu um best seller famoso, “O Século dos Cirurgiões” e, além de outros, o livro “Crepúsculo de um Gênio”, biografia do célebre cirurgião Ferdinando Sauerbruc (1855-1951), considerado o pai da cirurgia torácica.
Thorwald focaliza inicialmente a civilização egípcia. O autor não poupou esforços e apresentou um grande número de ilustrações para comentar o achado dos Papiros de Ebers e de Smith, adquiridos pelos egiptólogos George Ebers (em l873) e Edwin Smith (1862), escritos ambos por volta de 1550 a.C. e referindo-se a textos bem mais antigos. O primeiro trata de doenças internas, lesões ósseas traumáticas, oftalmologia e descrição de remédios extraídos da rica flora egípcia como a papoula, mandrágora e meimendro, entre outros dos quais se obtinham sedativos, analgésicos e excitantes para a prática médica. O Papiro de Smith, considerado o primeiro tratado de cirurgia, faz uma abordagem aos procedimentos operatórios da época, trazendo ainda uma descrição primitiva do cérebro humano e do coração.
Na região da Mesopotâmia desenvolveram-se civilizações ricas e poderosas, abrangendo vários povos, iniciando-se com os sumérios (4º milênio a.C), que criaram a escrita cuneiforme, sendo a mais importante a babilônica. Há muitas referências a doenças e tratamentos e ao famoso Código de Hamurabi (1728 – 1686 a.C).
Na Índia, Susruta, o mais afamado cirurgião da Antiguidade, deixou uma coleção importante sobre doenças (Susruta Samita – 800 a.C), dando ênfase à cirurgia, inclusive operações plásticas, relatando a técnica do retalho pedunculado na cirurgia reconstrutora do nariz. Também abordava a cistotomia (para retirada de cálculos vesicais), catarata, amputações e próteses, entre outros procedimentos. Da flora, já usavam a Rauwolfia serpentina, levada para a Europa posteriormente, já na Era cristã. Na China, havia uma concepção filosófica (Taoísmo), com o an-tagonismo entre as forças vitais, Yang e Yin, cujo desequilíbrio explicava o aparecimento da doença, sendo que o tratamento pela acupuntura já era usado pelos chineses.
O livro comenta ainda as civilizações mais importantes do continente americano, do milênio a.C, nas regiões onde hoje se encontram o México e o Peru. Apresenta seus rituais e sacrifícios, doenças mais comuns, o uso freqüente de trepanações — exibindo o instrumental cirúrgico feito de pedra — e faz referências à flora, observando a coca e a quina-quina como plantas nativas na região dos Incas.
A mensagem im-portante que o livro nos traz, em estilo leve e didático, com farta ilustração e comentários, baseados em estudos radiológicos de múmias, baixos relevos em monumentos e túmulos, tradução de escritos da época, é que a Medicina existiu bem antes de Hipócrates (sec 5º a.C).
* Glasdstone Machado é Especialista em Cirurgia Torácica pela ABCT e membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.