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PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
José Feliciano Delfino Filho


CRÔNICA (pág. 10)
Tufik Bauab*


EM FOCO (pág. 12)
Voluntários do Sertão


SINTONIA (pág. 15)
Emerson Elias Merhy*


DEBATE (pág. 18)
A relação médico-paciente e a internet


GIRAMUNDO (págs. 24 e 25)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e atualidade


SAÚDE NO MUNDO (pág. 26)
O sistema de saúde público no Japão


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág. 30)
Epidemias: os grandes desafios permanecem


CARTAS & NOTAS (pág. 33)
Conexão com o usuário a um clique


HOBBY (pág. 34)
Alexandre Leite de Souza


PONTO COM (págs. 38/39)
Informações do mundo digital


CULTURA (pág. 40)
Imperdíveis exposições da Pinacoteca


TURISMO (pág. 42)
Das flores de Bali ao enxofre do Ijen


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 47)
Dica de leitura de Desiré Carlos Callegari *


FOTOPOESIA( pág. 48)
Adélia Prado


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Edição 58 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2012

SAÚDE NO MUNDO (pág. 26)

O sistema de saúde público no Japão

Universal e equânime, de verdade

Cobertura de Saúde Universal do Japão, que completou 50 anos, garante assistência a toda a população, a baixo custo

Por Ruy Tanigawa* 


Hospitais de ponta, como o Hospital Universitário de Nagoya, e médicos bem formados constituem a base do sistema de saúde japonês  

A estruturação do sistema de saúde do Japão iniciou-se nos primórdios do século 20, quando o governo optou por uma política de ocidentalização rápida em toda a sociedade, conseguindo mudar a Medicina exercida até então, basea¬da na prática médica chinesa. Inicialmente, foi adotada como modelo a escola alemã e, posteriormente, a norte-americana. Marcado pela redução de taxas de mortalidade infantil e pelo aumento da expectativa de vida ao nascer, atribuídos também à oferta de educação – eficiente, obrigatória e gratuita –, o setor da saúde do Japão é, hoje, um dos mais eficientes do mundo.

A devastação do país durante a Segunda Guerra Mundial abalou, sensivelmente, o estado de saúde da população. Em 1947, a expectativa de vida masculina era de apenas 50 anos, e a feminina, 54. Mesmo assim, na década de 50, houve acentuada redução da taxa de mortalidade por doenças transmissíveis, em razão do fortalecimento das instituições comunitárias de saúde. Desde 1986, a expectativa de vida feminina, no Japão, é a mais alta em todo o mundo, chegando aos 86 anos em 2009.

   
        O complexo sistema denominado Cobertura de Saúde Universal do Japão completou 50 anos de existência em 2011. Foi criado em 1961, com resultados expressivos, graças às ações preventivas primárias e secundárias – e uso de tecnologias avançadas –, em relação, por exemplo, à mortalidade de adultos para doenças não transmissíveis, como o AVC, diabetes etc. Dentre outras iniciativas, foram realizadas campanhas para a redução da ingestão de sal, contra o tabagismo, riscos cardiovasculares e prevenção de suicídios.


Com isso, houve uma redução das desigualdades de saúde entre a população. Mesmo os cidadãos que não podem contribuir financeiramente têm os mesmos direitos à assistência médica garantidos pela constituição do país.

A edição de setembro último da revista britânica The Lancet dedica extensa matéria ao cinquentenário do sistema de saúde japonês, enfatizando, sobretudo, os índices saudáveis daquela sociedade, conseguidos a um baixo custo, e com equidade. Os cuidados médicos eficazes podem ser alcançados sem fila de espera, com despesas relativamente baixas (8,5% do PIB). Porém, salienta a revista, a longevidade e suas implicações sociais trazem necessariamente novos debates e desafios a serem resolvidos.

Os médicos
O sistema conta com cerca de 260 mil médicos, formados em 78 faculdades de Medicina, sendo 28 particulares e as demais públicas – estaduais, federais ou municipais – e mesmo estas são pagas. Após seis anos de estudos médicos regulares, os recém-formados submetem-se obrigatoriamente ao Exame Nacional de Medicina. Os aprovados passam a integrar, durante dois anos, o Programa Médico de Família e, posteriormente, fazem especialização por meio da Residência Médica.

Todos os médicos são filiados à Associação Médica do Japão, regional ou nacional, que, dentre diversas funções, realiza também a defesa dos associados em relação ao crescente número de denúncias de erro médico. Em geral, porém, os médicos japoneses se esforçam para melhorar a relação médico-paciente, dentro do contexto de uma medicina mais igualitária do que a praticada no passado.

Assim como no Brasil, a fixação do médico fora dos grandes centros urbanos também é muito difícil, neste caso em decorrência da dimensão insular do país, com pequena extensão territorial. O problema foi amenizado com a figura do “helicodoctor” nas cidades menores. Trata-se da assistência médica feita por uma equipe médica que se desloca em helicópteros.

Outro dado interessante é o controle feito pelo governo para evitar grandes lucros no comércio de medicamentos, que são adquiridos nos hospitais logo após a prescrição médica, e contam com subsídios de 70% a 100%.


Cuidados médicos eficazes podem ser alcançados sem fila de espera

Cultura e educação
Atribuir somente à Cobertura de Saúde Universal a responsabilidade pela população saudável não é totalmente correto. Os índices japoneses intrigam pesquisadores de vários países, que analisam também outros fatores. Dados da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e do Instituto Max Planck para pesquisa demográfica apontam: “muito contribui o estilo de vida do povo nipônico, em primeiro lugar, a atenção à higiene em todos os aspectos da vida cotidiana. Esta atitude pode, em parte, ser atribuída a uma complexa interação da cultura, educação, clima, água em abundância e à velha tradição shinto, de purificação do corpo e da mente. Acrescente-se a isso, a realização de exames como norma. O rastreamento em massa é fornecido para todos na escola, no trabalho ou na comunidade, pelas autoridades governamentais locais. Em terceiro lugar, a comida japonesa tem um benefício nutricional equilibrado, e a dieta da população tem melhorado em conjunto com o desenvolvimento econômico ao longo de cinco décadas passadas”. O hábito regular da prática de exercícios físicos é outro fator que colabora para a constante melhoria da saúde dos japoneses.


Dieta equilibrada também contribui para melhorar a saúde dos japoneses

Diversos outros estudos analisam a saúde e a longevidade do povo japonês. Publicados em inúmeros periódicos, as diferentes abordagens mostram o grau de complexidade do tema e analisam a vontade política dos governantes, o desenvolvimento econômico do país, o processo cultural e, fundamentalmente, o acesso à educação eficiente e contínua da população.

Dedicação
O sistema de saúde japonês foi testado recentemente, em março de 2011, pelo terremoto de magnitude 9,0 na escala Richter, e subsequente tsunami de até 40 metros de altura, causando sérios danos à infraestrutura do país, incluindo hospitais, centros de saúde e uma usina nu¬clear. O vazamento de radiação durante o inverno, com riscos de novos tremores e contaminação nuclear, não impediram que as equipes médicas trabalhassem, mesmo com escassos equipamentos. Apesar das condições adversas, lograram êxito e demonstraram que o espírito do sistema de saúde também é determinado pela dedicação de seus componentes, como tem sido nos seus 50 anos de existência.

O futuro do sistema japonês, entretanto, é frequentemente questionado devido aos fundamentos financeiros e sociais dos cuidados de saúde. A crise econômica que atinge o mundo todo e a ameaça de estagnação econômica – que ampliam as divisões sociais e aumentam a desigualdade –, combinadas com o aumento dos custos de saúde e o envelhecimento da população, levam os médicos japoneses a preocupar-se com a sustentabilidade do acesso universal sob tais pressões.

Mas, uma sociedade exposta, permanentemente, a adversidades espera superar mais esse desafio e debater eventuais reformas para o futuro. A experiência japonesa é altamente relevante em uma era de intensificação de interações para alcançar os objetivos de desenvolvimento do milênio no que tange à saúde.

Fonte: The Lancet


*Ruy Tanigawa é médico acupunturista, conselheiro do Cremesp e 1º secretário da Associação Paulista de Medicina.


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