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CAPA

EDITORIAL (pág. 1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Edmund Pellegrino, do Kennedy Institute of Ethics


SAÚDE NO MUNDO (pág. 9)
E U R O P A


CRÔNICA (pág. 12)
Cássio Ruas de Moraes*


SINTONIA (pág. 14)
Alexandrina Meleiro*


DEBATE (pág. 18)
A atuação de recém-formados em regiões distantes do país


SUSTENTABILIDADE (pág. 24)
O descarte e a reutilização de materiais


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág. 27)
Por Renato M.E. Sabbatini*


GIRAMUNDO (págs. 30/31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO COM (págs. 32/33)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


HOBBY (pág. 34)
Valdir Lopes de Figueiredo


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
O Conto da Ilha Desconhecida - André Scatigno*


CULTURA (pág. 38)
INHOTIM - Todos os sentidos da arte


CARTAS & NOTAS (pág. 43)
Comentários, Fontes e Referências Bibliográficas


TURISMO (pág. 44)
Na Garupa de um Motociclista...


FOTOPOESIA( pág. 48)
Sophia de Mello Breyner Andresen


GALERIA DE FOTOS


Edição 56 - Julho/Agosto/Setembro de 2011

TURISMO (pág. 44)

Na Garupa de um Motociclista...


Antonela e Marcos

Juntos, até o fim do mundo

Casal de médicos enfrenta as temperaturas polares e os ventos ruidosos da Patagônia, e chega, de moto, à cidade mais ao Sul da América do Sul, Ushuaia. Durante e ao final da viagem, paisagens deslumbrantes, flores exóticas, pinguins, baleias e geleiras

Por Antonela Siqueira Catania* 


O glacial Perito Moreno impressiona turistas procedentes de todo o mundo

Ao desembarcar na costa atlântica da América do Sul, a serviço da Coroa Espanhola, o navegador Fernando de Magalhães deparou-se com um indígena da tribo dos Tsoneks, alto e corpulento como o gigante Pathagón, personagem da novela Primaleón, que vinha lendo durante a viagem pelo oceano. A esses indígenas atribuiu o nome de Phatagóns e, à sua terra, de Patagônia.

O nome Patagônia é envolto em certo misticismo, por referir-se a uma terra longínqua e deserta, governada pelos ventos e pela neve que vêm e vão. Desbravá-la faz parte do imaginário de todos que apreciam uma boa aventura, e isso é possível de avião, ônibus, carro, bicicleta... Nós, eu e meu marido, Marcos Catania, fomos de moto.

A região geográfica não está bem delimitada em mapas, mas aproximadamente todo o Sul da Argentina e do Chile é chamado de Patagônia. Ela se estende do Rio Negro até a pontinha da ilha da Terra do Fogo.

Ao deixarmos Buenos Aires, sabíamos que o Portal da Patagônia estava a cerca de mil quilômetros ao sul. Pela Ruta 3, estrada que termina na Baía Lapataia, no Parque Nacional Terra do Fogo, começamos a sentir o cheiro da Patagônia: planícies e ventos fortes. Chegamos à cidade de Carmen de Patagones, separada de sua vizinha, Viedma, pelo rio Negro e, ao cruzarmos seu leito, adentramos finalmente em solo patagonês.

Um pouco mais ao sul fica a Península Valdés, a primeira parada obrigatória para quem desce pela costa atlântica da Argentina. Nas águas salgadas do Guelfo Nuevo, as baleias-francas-austrais vêm se reproduzir todos os anos de julho a novembro e, nessa época, passeios de barco são realizados diariamente por agências de turismo locais para que os turistas possam se aproximar dessas incríveis criaturas. Difícil dizer o que emociona mais, se a imensidão de seus corpos ou a mansidão de seu comportamento.


Ushuaia é a "baía do sol poente" na língua indígena da Patagônia

Paisagem insólita
Na península também encontramos leões e elefantes-marinhos, baleias-orcas, pinguins, guanacos e ovelhas. Residem ali cerca de 80 mil ovelhas e somente 5 mil homens! Quem quiser visitar a região pode se hospedar em Puerto Madryn, cidade com excelente infraestrutura turística, na entrada da península, ou em Puerto Pirámides, pequena vila nas margens do Guelfo Nuevo, com menos opções de hotéis, porém charmosa e cheia de flores.


Lago em El Calafate, pequena cidade ao sul da Argentina

À medida que se vai descendo, a paisagem se torna cada vez mais insólita. O frio aumenta e os ventos ficam ruidosos, como se tentassem repelir quem busca o Sul do planeta. Nesse trecho, a Ruta 3 é uma reta interminável, plana e desabitada, mas povoada de lendas, fauna, flora e mistérios. Por ela, deixamos a Argentina e entramos em terras chilenas, onde a travessia do estreito de Magalhães é realizada por um ferryboat. Já na Terra do Fogo, buscamos nosso destino final, a cidade argentina de Ushuaia, o “fim do mundo”.

Ao redor da cidade, picos nevados, apesar da baixa altitude, sugerem a proximidade do Polo Sul. Ushuaia, a “baía do sol poente”, na língua indígena local, é aconchegante, tem excelentes restaurantes e hotéis. Lá, pode-se visitar o presídio que deu origem ao povoamento da região, no início do século 20, e fazer passeios de barco pelo Canal de Beagle, que nos levam por paisagens belíssimas e exóticas para quem vive nos trópicos.


Prato típico: filé de cordeiro grelhado, com molho agridoce e folhado de batata com queijo derretido 

De volta ao norte
A viagem de volta para o norte se inicia, mas destinos turísticos imperdíveis ainda estão por vir. O Campo de Gelo Patagônico Sul fica na fronteira entre Chile e Argentina e deságua rios de gelo no Lago Argentino e no Oceano Pacífico. Às margens do lago está El Calafate, pequena cidade muito bem estruturada, de onde saem os passeios para o Parque Nacional Los Glaciares. Sobrevivem ainda nessa região impressionantes estruturas gigantes de gelo, como o Glacial Perito Moreno. Muitos deles estão em franca remissão devido ao aquecimento global e, invariavelmente, sentimos culpa de sermos humanos ao testemunhar tamanha beleza ameaçada por nosso modo de vida. 

Os glaciais continuam do lado chileno e picos nevados da Cordilheira dos Andes formam desenhos no céu. O ponto de partida para visitar essa região é a cidade de Puerto Natales, mas o mais interessante é se hospedar dentro do Parque Torres del Paine, desfrutando o poder das montanhas, o ar frio e puro, as flores e cores desse paraíso.

Sendo a Patagônia tão mágica, vasta e exuberante, minhas palavras dificilmente revelarão tudo desse lugar. Peregrinando na solidão da motocicleta, lembrava-me de Guimarães Rosa descrevendo travessias pelo sertão brasileiro: “Eu avistava as novas estradas, diversidade de terra. Se amanhecia num lugar, se ia à noite noutro, tudo o que podia ser ranço ou discórdia consigo restava para trás. Era o enfim. Era”. E me indagava: aqui também é sertão? – “Sertão é o sozinho... Sertão: é dentro da gente... O sertão é do tamanho do mundo”.


Baleias: difícil dizer o que emociona mais, se a imensidão de seus corpos ou a mansidão de seu comportamento


*Médica endocrinologista e autora do livro Na Garupa de um Motociclista... Até o Fim do Mundo. Contato: antonela74@terra.com.br ou site: www.motoconesul.com 


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