CAPA
EDITORIAL
Entre os destaques desta edição, um debate sobre a política de redução de danos
ENTREVISTA
Entrevista especial com Adib Jatene, diretor do HCor e membro do conselho do MASP
CRÔNICA
A crônica da vez é de autoria de Max Nunes, médico e um dos maiores nomes do humorismo brasileiro
MEIO AMBIENTE
De planeta água não temos mais nada. Ele está se transformando num enorme deserto...
CONJUNTURA
Um raio X da vocação médica mostra que a escolha vem desde muito cedo
DEBATE
Em discussão a estratégia de saúde que distribui seringas a usuários de drogas injetáveis
HISTÓRIA DA MEDICINA
Visite conosco a Capela da Sta Casa de Misericórdia de Mauá: atração cultural e turística da cidade
SINTONIA
Ludwig Van Beethoven sob o prisma de José Marques Filho, conselheiro do Cremesp
CULTURA
No interior de São Paulo, conservatório abre as portas para verdadeiros talentos da música
HOBBIE DE MÉDICO
Médicos também são apaixonados por carros... antigos!
GOURMET
As cozinhas estão sendo ocupadas pelos homens... É sinal de pratos muuuito saborosos!
TURISMO
Venha conosco conhecer a natureza preservada, a fauna e a flora das ilhas Galápagos
ACONTECE
Cirque du Soleil: enfim chega ao Brasil o espetáculo Saltimbanco. E você acha que a Ser Médico ia perder?
LIVRO DE CABECEIRA
Você já leu "O Caçador de Pipas", do médico Khaled Hosseini? Não sabe o que está perdendo...
POESIA
José Martins Fontes, poeta, médico e jornalista finaliza com chave de ouro esta Edição
GALERIA DE FOTOS
TURISMO
Venha conosco conhecer a natureza preservada, a fauna e a flora das ilhas Galápagos
Galápagos, seguindo os passos de Darwin
Poucos lugares no planeta proporcionam encontros tão próximos com a vida selvagem. É possível chegar pertinho de qualquer bicho
Texto e fotos: Luciano Candisani*
Setembro de 1835. O navio britânico Beagle singra as águas do arquipélago de Galápagos, isolado no oceano Pacífico a 970 quilômetros da costa do Equador. A bordo, o jovem naturalista Charles Robert Darwin ainda não sabia, mas algumas das anotações e amostras que ele vinha coletando naquelas ilhas remotas forneceriam, anos mais tarde, informações decisivas para a revolucionária teoria da origem das espécies. E colocaria as ilhas então desconhecidas entre as mais famosas do planeta.
Hoje, 171 anos após a passagem de seu mais ilustre visitante, as Galápagos continuam a atrair a atenção de cientistas e viajantes de várias partes do mundo, ávidos por conhecer de perto uma natureza singular. O destino não é exclusivo para cientistas ou exploradores: há vôos diários entre o continente e as duas principais ilhas do arquipélago – San Cristóbal e Santa Cruz – onde se encontram agências de turismo com várias opções de roteiros e infra-estrutura para se viajar pelo arquipélago. As ilhas são distantes umas das outras e cada uma delas tem uma atração especial. Uma boa maneira de conhecê-las é embarcar numa das muitas viagens marítimas oferecidas pelas operadoras de turismo. Há cruzeiros de todos os tipos, duração e preços. A outra opção é ficar em uma das ilhas habitadas (são quatro) e delas partir para viagens curtas a destinos próximos. Em ambos os casos, antes de sair para uma expedição, é imprescindível ter certeza sobre a segurança da embarcação.
Ao desembarcar nas ilhas o visitante pode seguir os passos de Darwin e ver de perto as espécies que inspiraram o naturalista, como os tentilhões e a tartaruga gigante (que emprestam o nome ao arquipélago). Por meio de trilhas estrategicamente traçadas é possível chegar pertinho de qualquer bicho. A natureza local está protegida pela legislação do Parque Nacional de Galápagos, que impede o trânsito de turistas fora das trilhas delimitadas. A presença humana não assusta as bizarras iguanas e tampouco os atobás de patas azuis. Os turistas com disposição para mergulhar com máscaras e nadadeiras são muito bem recebidos pelos leões marinhos. Curiosos, esses animais mergulham em direção ao visitante, exibindo variado repertório de acrobacias subaquáticas. A vida submarina é riquíssima, especialmente nas ilhas mais distantes de Darwin e Wolf, famosas pelos cardumes de tubarão-martelo e pela passagem de espécies raras como o tubarão-baleia. Sim, há programas específicos para turistas mergulhadores interessados em ver de perto os tubarões em seu habitat natural. Mas esse mergulho exige boa experiência, pois o local é exposto a fortes correntezas.
O arquipélago é formado por seis ilhas principais (Santa Cruz, Isabela, Floreana, San Cristóbal, Santiago e Fernandina), 12 ilhas pequenas e cerca de 40 ilhotas e rochedos. Todas as ilhas se localizam na área de maior insolação da terra, mas curiosamente, habitantes típicos de climas gelados, como pingüins, perambulam por algumas de suas praias e costões. As águas frias da Corrente de Hunboldt, que se origina na Antártica e segue para o norte, explicam, a um só tempo, a presença de animais do frio e a enorme abundância de vida marinha na região. Além da baixa temperatura, elas trazem nutrientes abundantes para a proliferação das algas microscópicas – o fitoplancton – capazes de transformar a energia da forte insolação da região em matéria orgânica, por meio da fotossíntese. A disponibilidade extra desse alimento, base da cadeia alimentar marinha, torna possível as incríveis populações de alguns peixes, mamíferos, répteis e aves observadas no arquipélago.
As costas de Galápagos jamais estiveram ligadas a qualquer continente. Surgiram ali mesmo, há cinco milhões de anos, do leito oceânico a milhares de metros abaixo da superfície, no que hoje a geologia descreve como um hot spot, ponto de superatividade no manto terrestre, onde a rocha incandescente rompe a crosta formando vulcões submarinos e, mais tarde, ilhas. Essa origem “quente” não é mera abstração. Em quase todos os costões é possível identificar rios de lava que parecem ter se solidificado no dia anterior e as erupções nos muitos vulcões ainda ativos são freqüentes. Em Isabela, é possível caminhar pelas paredes em declive suave do vulcão Sierra Negra até um local com ampla visão da cratera. Lá embaixo, fumarolas saem de muitos pontos trazendo o cheiro de enxofre e, é claro, a sensação de um mundo perdido no tempo.
Nesse mosaico de dezenas de ilhas vulcânicas isoladas, sem influências continentais e distantes o suficiente umas das outras para impedir o intercâmbio genético entre seus habitantes terrestres, operou-se uma espécie de laboratório de evolução da vida. Analisando alguns dos animais de cada uma das ilhas, Darwin registrou pequenas modificações entre indivíduos, sobretudo nos bicos de numa pequena ave do tamanho de um pardal chamada tentilhão. O naturalista notou que cada tipo de bico era perfeitamente adaptado ao alimento em sua ilha de origem. Era uma evidência de que as espécies tinham a capacidade de modificar-se com o tempo, de evoluir a partir de um ancestral comum, de acordo com o meio ambiente ao redor: evolução por meio da seleção natural, nas palavras de Darwin. Uma idéia aparentemente simples que mudou os rumos das ciências naturais.
Atualmente as principais linhas de pesquisas em Galápagos tentam gerar o conhecimento necessário à conservação do arquipélago. A tarefa não é fácil. A população humana das ilhas teve um aumento de 300% nas últimas décadas e hoje passa dos 20 mil habitantes, concentrados sobretudo nas ilhas de Santa Cruz e San Cristóbal. As conseqüências negativas do excesso de gente são várias. Nas ilhas habitadas o lixo é queimado a céu aberto, sem tratamento. Matas nativas são substituidas por áreas de cultivo para a produção de alimentos; ratos atacam os ovos de tartarugas gigantes; cães e gatos transmitem doenças fatais aos leões marinhos. Além disso, boa parte dos migrantes acaba se engajando em atividades predatórias, como a pesca do tubarão ou a coleta de lagostas e pepinos do mar.
Mesmo nesse cenário desfavorável, os pesquisadores continuam tentando soluções de aproveitamento sustentável dos recursos da região. O turismo ecológico é uma das principais alternativas e programas modelo de gerenciamento e regulamentação de visitação com impacto mínimo funcionam há anos. Galápagos já é, de fato, um dos principais destinos do ecoturismo do mundo e continuará sustentando esse posto enquanto a incomparável natureza local abrigar as formas de vida e o ambiente que vem encantando os visitantes, desde os tempos de Darwin.
Serviços
Como chegar
A Lan Chile oferece vôos de São Paulo a Quito com escalas em Santiago e Guaiaquil. A tarifa custa cerca de 850 dólares mais as taxas aeroportuárias. De Quito a Galápagos há duas opções: A Tame Airlines faz Quito a Baltra ou San Cristóbal. A viagem de ida e volta sai por cerca de 400 dólares. O trecho entre o aeroporto na ilha Baltra e Puerto Ayora, a principal cidade do arquipélago, na Ilha Santa Cruz, é feito de ônibus. Mas muitos dos cruzeiros partem da própria ilha Baltra, o que evita esse deslocamento de ônibus. A companhia Aerogal cobre o trecho Quito a San Cristóbal. Ambos os vôos têm cerca de 90 minutos de duração.
Onde Ficar
Há apenas quatro cidades no arquipélago. A maior delas é Puerto Ayora, na ilha Santa Cruz, onde estão os hotéis, as agências de viagem e a Estação Científica Charles Darwin, com exposição permanente sobre a natureza de Galápagos. San Cristóbal é a capital administrativa das Ilhas, mas tem menor infra-estrutura turística. As ilhas Isabela e Floreana têm pequenas vilas com pousadas. Taxa de conservação - Turistas estrangeiros pagam uma taxa de preservação ambiental de 100 dólares ao chegar.
Quando ir
Galápagos é um destino para o ano todo.
Cruzeiros marítimos
Há uma grande variedade de roteiros e opções de barcos, que podem ser veleiros, iates a motor e a vela e até navios para 100 passageiros. Algumas companhias de cruzeiro oferecem roteiros para 4 , 5 ou 8 dias. Os preços básicos variam entre cerca de 400 dólares em um iate de classe econômica até cerca de três mil dólares em iate ou navio de classe luxo. Mas há muitas opções intermediárias.
O site http://www.galapagosisland.net oferece uma lista de 50 embarcações, todas elas com fotografias e preços. Para saber mais, clique em http://www.discovergalapagos.com / http://www.galapagos.org
Informações gerais sobre o ecossistema http://www.galapagos.com
*Luciano Candisani é fotojornalista especializado em meio ambiente, colaborador fixo da revista National Geographic e autor dos livros Atol das Rocas (2002) e Muriqui (2003) pela editora DBA, entre outras obras.