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Uma visão sem ação é somente um sonho. Uma ação sem visão é apenas um passatempo. Uma visão com ação pode transformar o mundo. Joel Baker


ENTREVISTA
Chico de Oliveira, sociólogo, professor da USP e um dos fundadores do PT


CRÔNICA
Texto bem-humorado do médico e ex-jogador de futebol Sócrates


POLÍTICA DE SAÚDE
O acesso universal a medicamentos é uma meta que tem de ser o norte das ações...


CONJUNTURA
Projeto Xingú: iniciativa pioneira de atendimento médico feito em aldeias indígenas do país


COM A PALAVRA
A Medicina-espetáculo. Por Joaquim Prado Pinto de Moraes Filho


DEBATE
Cesárea a pedido


MÉDICO EM FOCO
Euryclides Zerbini


GOURMET
Polenta Especial: receita do anestesiologista José Carlos Canga


HISTÓRIA DA MEDICINA
O uso do branco por médicos


CULTURA
Pinacoteca de Santos


LIVRO DE CABECEIRA
O Código da Vinci e Tao Te King: Um Pequeno Grande Livro


GALERIA DE FOTOS


Edição 28 - Julho/Agosto/Setembro de 2004

CULTURA

Pinacoteca de Santos

Paisagens que não existem mais

A Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, tem um acervo de pintura dos mais representativos da história do litoral pau-lista. Instalada em um palacete do começo do século XX, antiga residência de um dos “barões do café”, a Fundação mantém uma exposição permanente do pintor que leva seu nome e uma galeria de mostras temporárias. A vasta obra de Calixto é um registro da passagem do século XIX ao XX no Estado de São Paulo, com destaque para as pinturas do litoral, principalmente as de Santos, São Vicente, Guarujá e Itanhaém.

Localizado num terreno de 6.600m2 na orla da praia, o palacete que abriga a Pinacoteca é uma obra de arte à parte, com elementos da arquitetura clássica e art noveau. Conhecido como Casarão Branco, as sacadas lembram a espuma das ondas do mar.

Construído pelo alemão C. A. Dick para residência, o sobrado teve como proprietários o barão do café Francisco da Costa Pires, depois o Asilo de Inválidos. Em 1921, a família Pires retomou o imóvel, executando uma reforma glamourosa que deu-lhe as características atuais. Em cada um dos espaços, a pintura do teto faz referência à utilização do aposento: na sala de música, instrumentos musicais; no jardim de inverno, pássaros e, na sala de jantar, frutas. No lugar dos pés, os bancos e mesas são sustentados por peixes. Nos jardins, uma fonte com lanternas chinesas, pérgolas e também uma Casa de Banhos, um dos únicos exemplares preservados na cidade, que reflete o estilo de vida das abastadas famílias proprietárias das casas na orla da praia no início do século XX.

Posteriormente, o imóvel mudou de dono várias vezes e, abandonado, chegou a ser transformado em um cortiço. Por causa da valorização da região e da especulação imobiliária, por pouco não foi demolido na década de 70. Em 1979 foi desapropriado e restaurado, passando a abrigar a Pinacoteca a partir de 1992. Hoje destaca-se imponente e solitário em meio aos edifícios da orla.

Calixto também gostava de retratar o processo de transformação pelo qual passavam as cidades. Pintava a mesma paisagem, com pequenas variações de posição e em períodos diferentes. Muitas dessas paisagens urbanas são retratos de um passado que hoje não existe mais. Quase tudo foi modificado e poucas são as construções daquele tempo ainda preservadas. A Igreja do Convento de Santo Antonio do Valongo, em Santos, é uma das que mantém as características originais. A Igreja do Carmo continua em pé, mas pela deterioração, nem parece a mesma das pinturas de Calixto.

Além obras contemporâneas, o pintor também fez muitas em referência à chegada das primeiras expedições do Reino de Portugal à região e ao Brasil colônia. No Museu do Café, antiga sede da Bolsa Oficial do Café, há três grandes painéis pintados por Calixto, um deles representando a fundação de Santos.

Ele nasceu em 1853, em Itanhaém e aprimorou os estudos em Paris. Ao retornar ao Brasil, em 1894, fixou residência em São Vicente. Pintou sob encomenda de instituições oficiais, da Igreja e de particulares, além de dedicar-se ao ensino da pintura e ao estudo da história.

De Brasil colônia à metrópole

O litoral santista tem profunda ligação com a história do país. Na região, o português Martim Afonso de Souza fundou, em 1532, a Vila de São Vicente, primeira povoação do Brasil. Na mesma comitiva de Martin Afonso, veio Brás Cubas, fidalgo do rei de Portugal, que ergueu na região o outeiro de Santa Catarina e o primeiro hospital do Brasil, o Nossa Senhora da Misericórdia. Posteriormente, a povoação de Brás Cubas foi elevada à Vila de Santos e, com o crescimento da população, atingiu a categoria de cidade, em 1839. O livro “Lembranças de São Paulo  o litoral paulista nos cartões postais e álbuns de lembranças” mostra Santos rodeada de matagais, brejos e lagoas.

A partir de 1854, com a instalação do Porto de Santos para o escoamento do café para a Europa, a cidade ganha um ambiente cosmopolita. Além dos navios e da circulação de imigrantes, passou a contar com uma ferrovia que fazia a ligação entre o litoral e a capital paulista. O trem também trazia turistas de São Paulo, tornando-a um dos principais balneários do país. No final do século XIX, já era uma região altamente urbanizada, com ruas calçadas, telégrafo e bondes puxados a burro.

A região viveu um período de glamour, com hotéis luxuosos e cassinos que recebiam a elite paulista. Aos poucos o lugar ganhou novas construções como a Catedral de Santos e o Teatro Coliseu Santista, casa nobre na primeira metade do século XX onde se apresentaram Carmem Miranda, Procópio Ferreira, Villa Lobos e Cacilda Becker. O suntuoso Teatro Guarani, que foi a principal casa de espetáculos de Santos, chegou a receber Sarah Bernhardt, encenando “A Dama das Camélias”. A pintura do teto do Guarani foi feita por Benedicto Calixto. Deteriorado pelo descaso com o patrimônio histórico, acabou completamente destruído por um incêndio em... Outro edifício histórico de Santos que conseguiu sobreviver é o do Centro Português, próximo à praça José Bonifácio, um palacete de 1900, que possui óleos alusivos à obra de Luís de Camões.

Uma viagem à China

A exposição “Uma viagem à China” ocupa as salas destinadas aos eventos temporários da Pinacoteca até primeiro de agosto. Mobiliário, objetos decorativos, utensílios, pinturas e estatuetas centenárias reconstituem os salões da alta burguessia chinesa do séculos XVII e XIX, com destaque para as peças da Dinastia Qing. A mostra inclui ainda uma
exposição de bules esculpidos em pedra vulcânica do artista Chen Mingzhi, que são verdadeiras jóias, com uma riqueza de detalhes e figuras minúsculas em relevo.

Pinacoteca Benedicto Calixto
Av. Bartolomeu de Gusmão nº 15 - Santos
Entrada franca. Horário: de terça a domingo das 14 às 19 horas

 


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