CAPA
EDITORIAL (JC pág. 2)
A difícil comparação entre os serviços da rede privada de saúde e o SUS. Para médicos e a população
ENTREVISTA (JC pág. 4)
O financiamento público da Saúde na visão de docentes em Políticas de Saúde da USP
ATIVIDADES CRM (JC pág. 4)
Acompanhe as novas datas dos Fóruns de Publicidade Médica do Cremesp e participe!
ATIVIDADES CRM (JC pág. 5)
TISS: operadoras devem fornecer os formulários impressos, avisa a ANS
MOBILIZAÇÃO (JC pág. 6)
A luta dos médicos do Nordeste por melhores condições de trabalho e de atendimento à população
ATIVIDADES CRM (JC pág. 7)
Exame do Cremesp: primeira fase acontece dia 23 de setembro
ESPECIAL (JC págs. 8 e 9)
Especial: mais de 90% dos médicos do Estado aprovam a atuação do Cremesp
ENSINO MÉDICO (pág. 10)
Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): 10 anos deste método de sucesso na FAMEMA
GERAL 1 (JC pág. 11)
Psicocirurgia: Ministério Público recomenda fiscalização no tratamento de transtornos mentais
HISTÓRIA (JC pág. 12)
Sta. Casa de S. José do Rio Preto - capacidade para receber 700 pacientes/dia
GERAL 2 (JC pág.13)
Em Opinião do Conselheiro, Isac Jorge nos brinda com o texto "O médico como corretor"
ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Acompanhe questões relacionadas ao treinamento médico, no Alerta Ético desta edição
GERAL 3 (JC pág.15)
Acompanhe Nota da SBPC que repudia o financiamento de procecimentos médicos
GALERIA DE FOTOS
EDITORIAL (JC pág. 2)
A difícil comparação entre os serviços da rede privada de saúde e o SUS. Para médicos e a população
Os hospitais do SUS
Pesquisa sobre instituições hospitalares não reflete a realidade de quase cem mil médicos do Estado
O fato de São Paulo contar com vários hospitais de excelência, mantendo elevados padrões técnicos – de segurança e de atendimento humanizado comparáveis aos melhores serviços de saúde do mundo – é motivo de orgulho para todos nós. Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo atestou esta realidade e estabeleceu um ranking das melhores instituições, após pesquisa de opinião entre os médicos.
Não há dúvida de que a comunidade médica do Estado de São Paulo gostaria de oferecer a todos os seus pacientes a qualidade dos hospitais referidos no Caderno Especial daquele jornal. Esta, no entanto, não é a realidade para os quase cem mil médicos que atuam neste Estado e nem está disponível para a esmagadora maioria da população.
Sem nenhum demérito àquelas instituições que contribuem para a assistência à saúde, pelo contrário, com votos de que se multipliquem e se aprimorem, não podemos deixar de falar sobre os médicos e instituições que não foram citados naquela publicação.
Não é só a combinação de infra-estrutura adequada, tecnologia de ponta, procedimentos avançados e pessoal capacitado que leva algumas instituições a se tornarem as preferidas dos profissionais, da mídia e do imaginário da população.
A universalidade do acesso tem de ser considerada quando temos como garantias constitucionais o direito à atenção à saúde e o direito à preservação da vida.
O paciente que dá entrada em um hospital quer ser bem e prontamente atendido, quer ver sua doença curada e o seu problema de saúde solucionado. O médico que exerce sua profissão em um hospital quer ter à mão todos os recursos diagnósticos e terapêuticos necessários para tratar ou salvar a vida do paciente, quer ser remunerado dignamente e espera contar com condições adequadas de trabalho. O restante é conforto de hotelaria.
Vale dizer que os médicos que trabalham nos hospitais privados de excelência se formaram e se especializaram nos hospitais públicos, incluindo aqui os filantrópicos e as Santas Casas.
São poucos os cidadãos que podem pagar diretamente ou escolher livremente o hospital onde querem ser atendidos. Segundo o IBGE, dentre mais de um milhão de pessoas que se internam por ano na região metropolitana de São Paulo, a maior parte depende exclusivamente do SUS. Na cidade de São Paulo, 60% da população têm plano de saúde, mas o SUS arca praticamente sozinho, por exemplo, com as hospitalizações de emergência, alta complexidade, transplantes e internações psiquiátricas.
No momento da oferta de planos de saúde privados no mercado, os hospitais chamados de primeira linha funcionam como um atrativo. A simples presença na rede conveniada joga o valor da mensalidade para duas, até três vezes mais. Estes planos são os mesmos que pagam em média R$ 30,00 a consulta médica, impõem restrições ao trabalho do profissional e excluem da cobertura muitas doenças e procedimentos.
Diversas pesquisas de satisfação demonstram que a população, após conseguir o acesso a um hospital público, avalia de forma bastante positiva os serviços recebidos. Alguns hospitais do SUS, universitários principalmente, gozam de excelente conceito, pois garantem a mesma resolutividade do setor privado. Faz sentido, pois, como já dissemos, a maior parte do corpo clínico que atua nos hospitais privados foi capacitada na rede pública e atua, ao mesmo tempo, no SUS.
Obviamente há diferenças no ambiente físico, na disponibilidade de insumos e de equipamentos, no acolhimento e na possibilidade de acompanhante durante a internação. O maior problema dos hospitais do SUS é a demora para conseguir a internação. Além disso, as falhas na atenção básica empurram para os prontos-socorros dos hospitais – é só ver a crônica superlotação – pacientes que poderiam ser atendidos nos postos de saúde, nos ambulatórios e por equipes de saúde da família. Está em curso no país um profícuo debate sobre a melhoria da qualidade da assistência em saúde.
Já existe consenso sobre a insuficiência de recursos para o SUS e, após intensa mobilização, estamos prestes a conquistar a regulamentação da Emenda Constitucional 29. Também é ponto convergente que a gestão da maioria dos hospitais do SUS tem problemas sérios, o que levou o governo federal a propor ao Congresso um novo modelo, o das fundações estatais. Vista por uns como solução para a autonomia e eficiência dos hospitais, e acusada por outros de privatizante, de dificultar o controle social e de contrariar o direito à estabilidade dos trabalhadores, a proposta merece ser discutida por todos aqueles comprometidos com as mudanças estruturais necessárias no sistema de saúde.
Todos devem almejar o dia em que o cidadão possa procurar um hospital e ser atendido de acordo com sua necessidade de saúde, e não conforme o saldo de sua conta bancária.
Neste sentido, sem a pretensão de fazer “marketing”, mas utilizando o pequeno espaço deste jornal, devemos também destacar a importância dos profissionais e dos hospitais de “porta aberta”, de “porta única”, que recebem o motoboy e o dono da BMW, em qualquer hora do dia e da noite, em qualquer situação e sem carências. Há que se enaltecer o Sistema Único que custeia a alta complexidade, os medicamentos de alto custo e a medicina preventiva.
Devemos homenagear as Santas Casas que sobreviveram quinhentos anos, outras filantrópicas que vivem com os parcos recursos repassados pelo SUS e as demais instituições públicas que dependem dos orçamentos insuficientes do Estado e dos municípios, via de regra insuficientes para o custeio e para os investimentos.
Parabéns médicos e gestores do SUS, ao cumprirem o compromisso social da Medicina, apesar das adversidades e da falta de reconhecimento público, vocês também são excelentes para a maioria do povo brasileiro.
Henrique Carlos Gonçalves
Presidente do Cremesp