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HISTÓRIA DA MEDICINA
Câmara Lopes foi um cirurgião reverenciado


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Edição 221 - 01/2006

HISTÓRIA DA MEDICINA

Câmara Lopes foi um cirurgião reverenciado


Em uma época durante a qual poucos se atreviam a enfrentar os desafios da cirurgia de esôfago, o cirurgião Luiz Heraldo Câmara Lopes não apenas os enfrentava como os superava. Sua técnica operatória fez com que fosse criada em torno de sua pessoa uma verdadeira aura. Viveu apenas 53 anos, faleceu em 1972, mas é reverenciado até hoje por quem teve oportunidade de conhecê-lo e de compartilhar seus ensinamentos, como o autor deste artigo, o cirurgião torácico M. I. Rollemberg, que foi seu aluno; o chefe de Cirurgia Experimental do Hospital do Servidor Público Estadual, Renato Andretto; Salvador Mercúrio Orsi, entre muitos outros.


Hospital das Clínicas da FMUSP de Ribeirão Preto, 1960: Câmara Lopes é o terceiro da esq. para dir., ao lado de Wilson Menegucci, seu assistente; Renato Godoy, chefe do Serviço de Cardiologia; professor Ferreira Lopes; professor Ingelfinger, de Boston; professor Pedreira de Freitas, chefe do Departamento de Medicina Preventiva, e Clóvis B. Vieira, do Serviço de Ciência Médica

Câmara Lopes teve cinco filhos: Câmara Lopes (filho), Frederico, Maria Elisa e Renato, do primeiro casamento, com Wanda; e Isabela, do segundo casamento com a alemã Annelore. Câmara Lopes, filho, é também médico e trabalha como patologista do Laboratório de Patologia Cirúrgica e Molecular do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Embora seu nome completo fosse Luiz Heraldo Câmara Lopes dos Anjos, sempre omitiu o “dos Anjos”, que só viemos a conhecer anos mais tarde pela inconfidência de um tio. Na década de 50, o nome Câmara Lopes era cantado em prosa e verso não só em Ribeirão Preto como nas redondezas, indo do Triângulo Mineiro a Goiás, chegando ao Exterior, criando-lhe uma verdadeira aura em razão de sua excelsa técnica operatória.

A fama de Câmara Lopes começou quando passou – após concurso – a fazer parte do grupo de cirurgiões do antigo Instituto dos Comerciários, chefiado pelo professor David Rosenberg. Antes fizera uma breve passagem em cirurgia tisiológica na década de 40 no Hospital Miguel Pereira, do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, da Divisão de Tuberculose do Estado, onde brilhava o célebre cirurgião Eduardo Etzel.

Naquela época, bem como alguns anos depois, poucos se atreviam aos desafios da cirurgia do esôfago, reservada a um grupo seleto. Durante o tempo que brilhou como chefe do grupo de cirurgia torácica, até o inicio dos anos 60, raro foi o mês em que não recebeu a visita de um médico ilustre, patrício ou estrangeiro, para conhecê-lo e acompanhar de perto sua conduta ante os portadores de doenças do esôfago, particularmente com megaesôfago chagásico.

Foi o que poderíamos chamar de um cirurgião eclético. Muitos traziam para Ribeirão Preto casos recusados por outros colegas devido as suas enormes complexidades, que ele prestimosamente se dispunha a resolver, fazendo-o sempre com sucesso. Nos últimos anos, não era incomum sair dessas cirurgias extenuado, encontrando sempre o amparo de seu leal assistente e nosso colega Wilson Menegucci.

Uma vez por semana, o grupo de cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, de Ribeirão, reunia-se especialmente para comentar os casos mais graves e especiais, sob a “batuta” do professor Ferreira Santos. Em geral o apresentador era o médico residente, com os comentários finais de Câmara Lopes e do professor. No entanto, com freqüência o próprio professor Ferreira Santos fazia questão de apresentar casos especiais operados por Câmara Lopes.

“Só você...”

Lembro-me que, certa vez, o problema trazido pelo paciente era tão complexo e a conduta de Câmara foi tão brilhante que o professor Ferreira Santos, após sua entusiástica apresentação, concluiu com uma recomendação aos ouvintes “...mas os senhores não se atrevam a tentar realizar tal cirurgia”. Foi uma consagração do notável cirurgião, ainda mais vindo de quem veio.


*Câmara Lopes

No ano de 1960 houve um célebre encontro de mestres de cirurgia em Ribeirão Preto, a convite do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina onde, durante cerca de 15 dias, revezaram-se os maiores especialistas do país em demonstrações de cirurgia dos cólons. Entre esses, uma de suas maiores estrelas era, sem dúvida, o professor Fernando Paulino, do Rio de Janeiro, então capital da Republica, considerado por toda a comunidade como um “príncipe” da cirurgia. Ficou deveras impressionado ao constatar, com seus próprios olhos, a maestria de Câmara Lopes, obtendo sucesso em casos aparentemente sem solução. Tal foi sua admiração, que, em determinado momento comentando os resultados nada favoráveis de uma operação de esôfago em um de seus pacientes, não teve pejo em convidar o ilustre colega em termos incisivos: “... Câmara só você para resolver este caso!” Ele foi ao Rio de Janeiro e refez a cirurgia do mestre com absoluto sucesso. Evidentemente estes fatos, se por um lado aumentavam sua fama, também criavam doses de ciúme e inveja...

Naquele mesmo ano, o professor norte-americano, Ingelfinger, de Boston, maior fisiologista de esôfago conhecido na época, esteve em Ribeirão Preto durante um mês acompanhando os estudos do brilhante cirurgião, levando para os Estados Unidos os resultados das idéias e tratamentos da moléstia de Chagas, patologia que começava a ser descoberta no hemisfério Norte.

Mãos alvejadas
Certo dia, Câmara Lopes foi abordado, no saguão do hospital, por um paciente com desajustes mentais, que o atacou com um revolver. Ao se defender como anteparo, teve as duas mãos alvejadas. Naquela época não havia especialistas em cirurgia de mão em nosso meio, obrigando-o a procurar tratamento especializado em Nova York. Foi operado em ambas mãos, mas ficou com dois dedos médios em “gatilho”, que de forma alguma constituíam obstáculos a sua arte operatória.

Na ocasião, realizou-se naquela cidade norte-americana um congresso mundial de cirurgia torácica, do qual Câmara participou, ocasião em que conheceu o professor Nyssen, de Basiléia, na Suíça, grande entusiasta da cirurgia de esôfago. Do encontro resultou amizade e admiração mútua e ambos passaram a trocar experiências. Seus resultados brilhantes tornaram-no um convidado especial para comandar uma das seções internacionais da especialidade, realizadas anualmente na Basiléia.

Na volta de Nova York, resolveu colocar em prática suas novas idéias no tratamento do megaesôfago chagásico, particularmente nos grandes megas em que o esôfago se transforma em enorme bolsão, produzindo regurgitação para os pulmões, com as conseqüentes crises de pneumonias de repetição. Propunha a ressecção de praticamente todo o esôfago doente, com a elevação do estômago por via retroesternal, ficando o mesmo situado no espaço virtual do mediastino anterior. Na primeira cirurgia após o “transplante” do órgão, a equipe cirúrgica ficou presa de uma expectativa nervosa, temendo a compressão e conseqüente parada cardíaca. Nada aconteceu e a cirurgia revestiu-se de integral sucesso. Dali foi um passo para ser convidado a compor, com o professor Ferreira Santos, a recém formada equipe de cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, coroando seu sucesso.

Infelizmente, viu-se acometido de uma artrite reumatóide, que praticamente lhe impedia os movimentos cirúrgicos. Surgia a cortisona com enormes esperanças, mas com graves efeitos secundários, que desencadearam uma diabetes mellitus de difícil tratamento, ainda mais em se tratando de paciente rebelde. As complicações entraram em circulo vicioso, desaguando em uma tuberculose pulmonar cavitaria, com hemoptise. Foi obrigado a suspender a medicação corticosteróide, com conseqüente insuficiência supra renal e tratamento posterior com ACTH. Desenvolveu uma osteoporose gravíssima, com fraturas múltiplas de pés, punhos, a um simples esbarrão, criando-lhe um sofrimento inaudito.

Apesar de todos estes percalços, manteve uma firmeza de espírito e valentia até seu final, deixando uma lembrança imperecível entre todos os que tiveram a ventura de conhecê-lo.


* M. I. Rollemberg Membro é membro emérito em Cirurgia Torácica do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e autor dos livros “Nos Tempos da Panair” e “O Vôo do Poeta Dalmo Florence”


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