CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho
ENTREVISTA (pág. 3)
Paulo César Rozental
ENSINO MÉDICO (pág.4)
Simpósio Internacional
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág.5)
Saúde da mulher
SAÚDE PÚBLICA(págs. 6 e 7)
Zika vírus: explosão de casos
EXAME DO CREMESP 2015 (pág.8 e 9)
Avaliação acadêmica
TRABALHO MÉDICO (pág. 10)
Saúde suplementar
EVENTOS (pág.11)
RM & Exame do Cremesp
EU MÉDICO (pág. 12)
Ação Voluntária
JOVENS MÉDICOS (Pág. 13)
Novo acordo
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Editais
BIOÉTICA (pág. 15)
Microcefalia
GALERIA DE FOTOS
EU MÉDICO (pág. 12)
Ação Voluntária
Pediatra aproveita férias para atender populações de risco
Priscyla Proença acredita que o voluntariado faz com que o profissional reviva a vocação que o levou à Medicina
A escolha pela Medicina auxiliou duplamente a médica pediatra Priscyla Proença em sua vontade de ajudar outras pessoas. Primeiro, com o conhecimento sobre como ajudá-las. Depois, com condições financeiras para fazê-lo. Priscyla, que no momento realiza uma nova Residência em Neonatologia, no Hospital Albert Einstein, foi em janeiro ao Paraguai, com uma equipe do projeto Conexão Voluntários em Campo, realizar atividades de atendimento médico, atenção à alimentação, educação, esporte e cidadania.
Como não se trata de uma área de catástrofe, seu trabalho naquele país voltou-se a atividades de orientação em uma comunidade carente. A médica também foi a um presídio misto, onde só havia o trabalho de um enfermeiro na assistência à saúde. Atendeu presos homens, mulheres e algumas crianças ali nascidas. “Foi impactante, uma realidade que eu nunca havia visto antes. Apesar de a gente saber que eles estão ali para pagar por suas escolhas, como nos presídios brasileiros, não há condições de vida digna lá dentro”, conta.
Essa não foi a primeira experiência internacional em voluntariado de Priscyla, que viajou ao Haiti, em janeiro de 2013 e em outubro de 2014. Mas, foi ainda no internato que a pediatra começou no trabalho voluntário voltado para a Saúde. Com supervisão, integrou a equipe de um barco-hospital, atendendo comunidades ribeirinhas da ilha de Marajó.
“No Haiti, há o impacto de pobreza mais generalizada e em maior proporção do que aqui. Temos contato com pessoas que passam o dia todo sem comer e com o modo como vivem após o terremoto. São pessoas que tinham suas casas e passaram a morar em favelas semelhantes às brasileiras”, diz Priscyla.
Ela relata que o trabalho contínuo do grupo com as comunidades do país fez com que as mudanças desde o terremoto de 2010 fossem perceptíveis e, principalmente, que fosse criado um laço de confiança. Assim como o nome do programa do qual ela participa, formou-se uma “conexão” – declarada pelos haitianos da comunidade local, quando disseram considerá-los como parte de seu povo. “Foi muito importante porque a gente não vai só pra dar atendimento, mas pra trocar, dar amor, estar junto”, explica.
Carreira
Nascida em Belém, Priscyla estudou em São Paulo, retornando para sua cidade natal na época do vestibular. Graduou-se em 2011, na Universidade Federal do Pará, exercendo a profissão por um ano em seu Estado, antes de realizar a Residência em Pediatria no Hospital Santa Marcelina, na capital paulista.
A relação com o voluntariado é anterior à Medicina na vida da pediatra, que até então se envolvia em projetos não relacionados à área. Com as diferentes experiências, ela conta que o retorno das viagens aos locais de catástrofe e pobreza extrema é sempre delicado. “A gente aprende muito a não limitar a solidariedade e que todo mundo é igual, mas tivemos oportunidades diferentes. Cada vez que eu volto, há um impacto, tenho uma visão diferente de escala de valores”, diz.
Priscyla conta que, em sua volta da primeira viagem ao Haiti, enfrentou um processo emocional forte. Tinha uma espécie de vergonha de tomar banho ou comer muito porque se lembrava da situação do país caribenho. “Isso faz parte do choque cultural. Mas aí você percebe que é assim, que na verdade não é para pararmos de viver, mas para compartilhar um pouco do que eu vivo com as outras pessoas”, reflete a médica, que também realiza, junto a uma equipe de amigos profissionais de diversas áreas da saúde, atendimento gratuito em cidades do interior de São Paulo.
A médica em atendimento às crianças do Haiti, pelo projeto
Conexão Voluntária em Campo
Resgate
Faltando um ano para terminar a Residência em Neonatologia, ela planeja um curso de Medicina de Resgate fora do País e tem, com duas obstetras que atuam no Conexão, um projeto de uma clínica de atendimento a parto de baixo risco no Haiti – para o qual buscam uma forma de ser implantado.
A pediatra considera que essas atividades, assim como o contato com outros voluntários, as ajudam a repensar sua maneira de demonstrar afeto, o que acredita ser importante na profissão. Comenta que, atualmente, ouve-se muito da população que o médico não se importa com o paciente. “Quando estamos em comunidades carentes e percebemos que o paciente não quer só o nosso atendimento, mas a nossa atenção, nossa conversa, eu acho que isso talvez faça voltar para a gente um pouco da vocação que nos motivou a começar a sonhar em ser médico. Porque, com certeza, quando cada um se decidiu pela profissão, o fez porque se importava com as pessoas. O voluntariado renova na gente essa chama e você a traz para o dia a dia”, reflete.
Voluntariado
Para o médico que quer se envolver com o voluntariado, Priscyla indica começar com viagens dentro do Brasil, a fim de ir se acostumando às diferentes realidades. “Algumas pessoas não têm tanta experiência com populações de risco, e a pobreza e violência nessas regiões são muito impactantes. Você tem de estar ali para dar o seu melhor, mas sem julgar a maneira como as pessoas vivem, sem impor sua cultura”, conclui.