CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho
ENTREVISTA (pág. 3)
Paulo César Rozental
ENSINO MÉDICO (pág.4)
Simpósio Internacional
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág.5)
Saúde da mulher
SAÚDE PÚBLICA(págs. 6 e 7)
Zika vírus: explosão de casos
EXAME DO CREMESP 2015 (pág.8 e 9)
Avaliação acadêmica
TRABALHO MÉDICO (pág. 10)
Saúde suplementar
EVENTOS (pág.11)
RM & Exame do Cremesp
EU MÉDICO (pág. 12)
Ação Voluntária
JOVENS MÉDICOS (Pág. 13)
Novo acordo
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Editais
BIOÉTICA (pág. 15)
Microcefalia
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (pág. 3)
Paulo César Rozental
“Os residentes são a alma do SUS”
“As manifestações de rua dos residentes quebraram
o paradigma de que a classe médica é desunida”
Paulo César Rozental foi eleito presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado de SP (Ameresp) no final de 2015, em um momento de reivindicações, após duas manifestações de rua. Participante do movimento médico desde a época de faculdade, Rozental é formado em Medicina pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), de Teresópolis (RJ), fez MBA executivo em Saúde, na FGV/RJ, e iniciou mestrado em Ética Aplicada na UFRJ, com tese sobre a formação moral do médico. Cursou Residência em Cirurgia Geral, no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, e Videolaparoscopia, na Universidade de Santo Amaro, no Hospital Geral do Grajau, e presta concurso para sua terceira Residência, desta vez, em Cirurgia Plástica. Representando cerca de 11 mil médicos em todo o Estado de SP, aproximadamente 1/3 dos residentes do Brasil, Rozental dá sua visão sobre o movimento dos jovens médicos.
Os médicos residentes fizeram reivindicações em relação às condições de trabalho, que culminaram em duas manifestações de rua na Capital paulista. Considera satisfatórias as respostas que o MEC e o Ministério da Saúde deram aos residentes?
A situação do País impacta diretamente o SUS e os residentes, já que estão na linha de frente, atuando com poucos recursos, falta de preceptoria e bolsas defasadas. O residente sai da faculdade com muita vontade de melhorar o atendimento público e encontra gestores de mãos atadas, sem condições de dar conta do fluxo de pacientes ou do número de cirurgias. Nossos alertas foram insuficientes, motivando as paralisações. A Ameresp auxiliou a Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) a criar uma pauta de reivindicações do movimento e fizemos duas manifestações de rua na capital paulista, sendo a primeira com 3 mil residentes na avenida Paulista, e a segunda, com 1 mil, na Praça da Sé.
E quais foram as conquistas?
Após negociações (veja matéria na pág. 13), conseguimos que o governo fiscalize, no período de um ano, os programas de Residência com credenciamento vencido que tenham médicos residentes em atividade, independente de solicitação de recredenciamento, e também que as instituições que ofertam Residência sejam oficiadas sobre sua condição orçamentária. Avançamos ainda nas discussões sobre a eliminação de carência de 12 meses para os residentes usufruírem dos auxílios maternidade e paternidade e do pagamento de seguro de acidentes de trabalho. Tivemos um aumento da bolsa de 11,9%, a partir de março de 2016, um ganho relativo, já que a inflação oficial foi de 6,41% no ano passado. Embora esteja longe do ideal, passaremos a ter diálogos permanentes com a Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC). Não temos uma data-base estabelecida, o que deve ser revisto.
O que há ainda para conquistar?
Queremos qualidade na Residência Médica e respeito ao residente e ao paciente. Há colegas que ultrapassam as 60 horas semanais previstas, sem repouso. Temos feito um trabalho de conscientização e esperamos que a tendência de ultrapassar a carga horária seja revertida. A Ameresp está à disposição para receber denúncias sobre esses casos. Daqui a dois anos, conforme o acordo que firmamos, todos os programas de Residência terão de ofertar moradia. A bolsa tem valor bruto médio de R$ 2,9 mil, mas os descontos são variáveis de instituição para instituição, assim como as complementações. Fica claro que o médico não se candidata à Residência por conta da bolsa, já que poderia ter vínculos empregatícios mais rentáveis. Ele está na Residência para aprimorar a técnica e ganhar experiência com profissionais de notório saber e especialização. Aliás, em relação à preceptoria, a ANMR terá lugar nas discussões da carreira de Estado desses profissionais na Mesa Nacional de Negociação do SUS.
Qual o significado das manifestações de rua para o movimento médico?
Essas manifestações trouxeram à tona a importância dos residentes, que são a alma do SUS, com seu espírito de renovação e juventude, interesse e eterna cobrança por atendimento de qualidade. O movimento alcançou visibilidade na mídia. Em janeiro, houve até uma série de reportagens no Fantástico, da Rede Globo, mostrando a realidade de nosso cotidiano. Com isso, a população teve conhecimento sobre o que são e o que fazem esses profissionais. Conseguimos mostrar a união dos residentes, quebrando o paradigma de que a classe médica é desunida. Tivemos maturidade para fazer um movimento pacífico, que não prejudicou o funcionamento dos serviços de saúde, mantendo os atendimentos de urgência e emergência. O fato de as manifestações terem começado na rua e terminado dentro do Cremesp mostra a receptividade que temos no Conselho. Além disso, o Cremesp tem uma Câmara do Médico Jovem atuante, coordenada pelo conselheiro Nívio Moreira, que nos ampara e orienta.
Quais serão os pilares desta gestão da Ameresp?
Será uma continuidade das últimas gestões, a quem só tenho a agradecer pelo trabalho realizado. Iremos mapear as necessidades dos residentes e, para isso, ouviremos os problemas locais. Estipulamos uma divisão em 10 microáreas, além da Grande São Paulo, para que haja maior representatividade dos problemas locais. Criaremos um calendário de visitas para aproximação e fortalecimento das lideranças regionais. Contaremos ainda com uma direção adjunta, um grupo de colaboradores dispostos a nos ajudar ao longo da gestão. Outro aspecto é a questão do assédio moral, tema sobre o qual estamos elaborando uma cartilha, que será publicada este ano.
Como analisa o envolvimento dos jovens profissionais com o movimento médico? Há uma vontade maior de engajamento?
Vejo transformações no movimento médico e os colegas tomando mais iniciativa no campo político, se interessando. Os jovens querem velocidade nas mudanças e um movimento mais amplo, que não se restrinja aos desvarios políticos. O País tem um ranço em relação à política, que precisa ser vencido, no qual ser politizado é pejorativo. Os dirigentes da Ameresp estão felizes por auxiliar na luta pelos direitos e valorização dos residentes e preceptores pela melhoria da qualidade da Residência. As escolas nos preparam para um determinado cenário, mas a realidade do médico é bem mais dura do que nos apresentam. Nós enfrentamos a realidade com sentimento de intervenção, mudança e luta pelas condições de Saúde da população.