CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
João Ladislau Rosa - presidente
ENTREVISTA (pág. 3)
Nuno Jorge Carvalho Sousa
ALERTA TERAPÊUTICO (pág. 4)
Incretina e pancreatite
LEGISLAÇÃO (pág. 5)
Anorexígenos para tratar a obesidade
MAIS MÉDICOS (pág. 6)
Debate no TRT-SP
TRABALHO MÉDICO (pág. 7)
Plano de Carreira
SAÚDE SUPLEMENTAR (pág. 8)
Trabalho médico
INSTITUCIONAL (pág. 9)
Nova sede
CONVÊNIO (pág. 10)
Documentação médica
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Debate sobre gestão do SUS
FISCALIZAÇÃO (pág. 12)
Reavaliação das unidades em Campinas
JOVEM MÉDICO (pág. 13)
Junior Doctors Network no Japão
ELEIÇÕES CFM 2014 (pág. 15)
Orientações
BIOÉTICA (pág. 16)
Resolução nº 1.995/2012
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (pág. 3)
Nuno Jorge Carvalho Sousa
“Avaliação dos egressos de Medicina deveria ser permanente”
“É preciso competência clínica e profissionalismo em todas as fases do aluno, e também depois, como praticante da Medicina”
A avaliação dos egressos do ensino médico deve acontecer não só depois que os alunos saem da faculdade, mas ao longo da vida profissional, para que se sintam instigados a se atualizar e estudar sempre. Quem defende essa tese é o médico Nuno Jorge Carvalho Sousa, diretor do Curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde (ECS) da Universidade do Minho (UMinho), em Portugal, coordenador do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas e único estrangeiro membro da National Board of Medical Examiners (NBME). A UMinho é considerada inovadora no país por sua orientação biopsicossocial, com plano de estudos centrado no aluno e interligação com a pesquisa. Por seus serviços em prol da Saúde e pela qualidade do ensino médico, foi distinguido com a Medalha de Ouro do Ministério da Saúde de Portugal, em 2011.
O professor é o único estrangeiro membro da instituição norte-americana National Board of Medical Examiners (NBME), organização independente que avalia profissionais da Saúde, certificando médicos. O que vocês vêm discutindo?
Temos discutido uma avaliação integrada dos médicos e de outros profissionais da Saúde e os princípios para a construção de uma avaliação baseada na ideia de que é possível medir conhecimentos, mas só isso não é suficiente. É preciso competência clínica e profissionalismo em todas as fases do aluno, e também depois, como praticante da Medicina. Temos trabalhado na criação dos melhores instrumentos de avaliação, criando ferramentas para mensurar o conhecimento médico no contexto clínico. Por exemplo: em vez de perguntarmos sobre algum conhecimento básico em Medicina, confrontamos o aluno com o quadro clínico do paciente. É uma avaliação teórica, de múltipla escolha, mas baseada naquilo que o médico pratica todos os dias. O exame de egressos deve ser melhorado e usado de forma intensa pelas escolas e entidades médicas como uma simulação real.
Como deveria ser a avaliação ideal?
O exame para egressos de escolas médicas está em construção nos Estados Unidos, assim como também no Brasil, com o Exame do Cremesp. Defendemos que haja uma análise na escola e outra externa, mantendo-a ao longo do período profissional, obrigando os médicos a estudar sempre. O conceito que temos, de que após a formatura do médico, acabou a avaliação, precisa mudar. Acreditamos que esse tipo de instrumento seja internacional porque a Medicina é a mesma em Braga ou Pequim. Ou seja, 90% do conhecimento é idêntico, variando apenas em relação às incidências de doenças locais. Como entidade internacional, a NBME quer auxiliar na construção de critérios para avaliar médicos competentes visando garantir a qualidade do atendimento aos pacientes, nosso dever moral.
Em Portugal, como é a experiência de 40 anos com o exame terminal, após a faculdade?
O exame terminal mede apenas a memória dos alunos a respeito das matérias aprendidas após o final do curso. Mas o governo tem intenção de mensurar também os conhecimentos clínicos. Depois que o médico escolhe a especialidade, é feita uma outra prova, aí com maior participação da Ordem dos Médicos de Portugal – o Exame Nacional de Seriação para acesso à especialidade. Mas, infelizmente, a avaliação acaba por aí. Estamos discutindo uma recertificação, apesar da forte resistência a ela. Mas os dois exames em Portugal foram criados graças a um grande esforço coletivo das pessoas interessadas na melhoria dos cuidados assistenciais. Tenho certeza de que o Brasil, a partir do exame obrigatório, em São Paulo, dará os primeiros passos neste sentido porque vocês introduziram um instrumento de grande qualidade ao longo desses dez anos. E, pela minha experiência em visitas a São Paulo, sei que os líderes das entidades médicas têm o mesmo pensamento.
E os médicos estrangeiros, também precisam realizar o exame para atuar em Portugal?
Os profissionais formados em escolas estrangeiras têm de prestar os mesmos exames que os profissionais portugueses. Com exceção de algumas instituições, com as quais Portugal mantém acordos internacionais.
No Brasil, há muitas críticas no que diz respeito à abertura de novas escolas, geralmente particulares, sem o mínimo de qualidade para o ensino. Isso acontece em Portugal?
Há apenas oito escolas de Medicina em Portugal, todas públicas. Conheço a realidade do Brasil e noto que há uma enorme heterogeneidade no ensino médico, o que precisa ser corrigido. Mas a questão não é se a escola é pública ou privada, o que está em jogo é a formação médica de qualidade. A necessidade de se fazer o exame de egressos é uma forma de proteger a sociedade.
Como classifica o ensino médico em Portugal, em geral?
Em geral, o ensino nas escolas médicas é de boa qualidade e se equipara ao dos demais países europeus. Mas claramente podem ser melhoradas. Não há um ranking específico para avaliar o nível das escolas, mas como o processo é nacional, de acordo com a avaliação dos alunos, as escolas acabam conhecendo sua posição. Mas é preciso cuidado nessa análise porque há outros fatores, como a qualidade da formação ao longo do curso.
As diretrizes de ensino da Universidade do Minho contam com uma perspectiva diferenciada. Como funciona?
Nossa linha de ensino conta com uma perspectiva integrada biopsicossocial, com planos de estudos centrados no aluno. Ele é o ator principal e tem a oportunidade de montar seu currículo, fazendo opções à sua medida. Não temos disciplinas, mas unidades curriculares multidisciplinares. Desta forma, ele aprende e se integra em diferentes perspectivas já no 1ºano, tendo acesso a conteúdos clínicos. Embora ele ainda não tenha contato com pacientes e não discuta casos complexos, tem acesso a aspectos morfológicos, por exemplo. Assim, aprende melhor anatomia e se sente mais motivado porque sabe para que aquilo servirá mais adiante. Quando estiver mais avançado no curso, já possuirá enorme integração e familiaridade com os objetivos educacionais.