CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
André Longo Araújo de Melo - diretor da ANS
DEPENDÊNCIA (pág. 4)
Rede de Apoio a Médicos registra 395 atendimentos em dez anos
SAÚDE DA MULHER (pág. 5)
Publicação atualiza ética na ginecologia e obstetrícia
FISCALIZAÇÃO (pág. 6)
Urgência e emergência de Campinas tem sobrecarga de atendimento
APOSENTADORIA (pág. 7)
Holerite de médico aposentado reflete baixos salários no sistema público de saúde
SAÚDE SUPLEMENTAR (págs. 8/9)
Definida nova mobilização para o dia 25 de abril
CFM (pág. 10)
A Medicina no mundo digital
FINANCIAMENTO DA SAÚDE (pág. 11)
Frente Nacional por Mais Recursos na Saúde
SAÚDE MENTAL (págs. 12/13)
Dispersão de usuários dificulta acesso dos agentes de saúde
REGIONAIS (pág. 15)
Cremesp inaugura novas delegacias em Bauru e Osasco
BIOÉTICA (pág. 16)
Prática de trocar receita é considerada infração ética
GALERIA DE FOTOS
DEPENDÊNCIA (pág. 4)
Rede de Apoio a Médicos registra 395 atendimentos em dez anos
Parceria do Cremesp com Unifesp garante atendimento a dependência química e transtorno mental
A Rede de Apoio a Médicos, parceria do Cremesp com a Unifesp, registrou o atendimento de 395 profissionais durante seus dez anos de atuação. O serviço foi criado em 2002 para apoiar médicos dependentes químicos, oferecendo avaliação individual e orientação a colegas e aos seus familiares em relação a como lidar com o enfermo. A rede foi ampliada para o atendimento a transtornos mentais e, em 2011, formou um grupo inédito de mútua ajuda para os profissionais que fazem uso problemático de substâncias. As reuniões são feitas quinzenalmente na rua Borges Lagoa, 564, Vila Mariana, na capital pau¬lista. O grupo que, em geral, tem de 10 a 12 participantes, é pioneiro no Brasil e funciona como uma rede informal de apoio, complementando o trabalho feito individualmente.
Palhares: serviço especializado e dedicado ao médico
De acordo com Hamer Nastasy Palhares, coordenador da Rede de Apoio a Médicos, tanto a Rede de Apoio quanto o grupo de mútua ajuda são reflexo de uma tendência mundial de tratamentos voltados para grupos os mais homogêneos possíveis, com a intenção de driblar resistências e garantir o atendimento em longo prazo.
Fatores de risco
Excesso de trabalho, vários empregos, baixa remuneração, más condições de trabalho, responsabilidade profissional, conflitos na relação médico-paciente, cobranças da população e perda da autonomia no exercício profissional fazem parte do cotidiano dos médicos, assim como o fácil acesso a drogas com alto potencial de abuso. Esses problemas, acrescidos da sensação de que “podem cuidar de si mesmos”, são desen-cadeadores do uso de álcool e drogas e de transtornos mentais.
Como a população em geral, os médicos enfrentam os mesmos fatores de risco para a dependência química – genética, ambiente familiar e pressão social –, além do estresse continuado, privação de sono, situações extremas, cobrança de desempenho, sobrecarga de trabalho, já que trabalham em jornadas extras, muitas vezes, consecutivas. ”Todos esses elementos, agindo em conjunto, quando não aliados a estratégias eficazes de enfrentamento, podem desencadear o abuso de substâncias, como calmante ou álcool para conciliar o sono. O acesso facilitado dos médicos a drogas com alto potencial de gerar dependência também é repetidamente citado na literatura”, explica Palhares.
Nos últimos dois anos, a Rede atendeu 57 casos novos, sendo nove deles exclusivamente para portadores de transtornos mentais (serviço iniciado no último ano). A presença de comorbidade psiquiátrica esteve presente em 52% da amostra. A maioria da população atendida é de homens (85% dos casos).
Pela análise dos dados dos médicos que fazem tratamento na Rede, o álcool é a droga mais consumida e, na maioria das vezes, responsável pelo início de consumo problemático de substâncias entre os profissionais com especialidades clínicas. Com os cirurgiões, essa passagem acontece com o álcool ou com drogas de rua. Já entre os anestesiologistas, a porta de entrada é com as drogas de prescrição. De modo geral, as médicas – que representam 13% dos atendidos pela Rede – apresentam problemas mais frequentemente com benzodiazepínicos e anfetaminas, mas também tendem a buscar auxílio mais precocemente que os homens.
Demanda
A procura pela Rede acontece, na maior parte das vezes, voluntariamente (em 52% dos casos), seguida por pressão da família (30%) e por pressão dos colegas ou do Conselho Regional de Medicina (18%). Ana Célia Soares, assistente social do Cremesp, relata que o médico procura o atendimento na Rede quando o consumo problemático de substâncias lhe traz prejuízos. E quando parte da família, geralmente, propõe internação. “A acolhida e os esclarecimentos, por meio do Serviço Social do Cremesp, propiciam uma resposta adequada à necessidade. A parceria com a Unifesp possibilita o encaminhamento do médico para um serviço especializado e dirigido a ele, fator que colabora para a adesão e tratamento”, comenta.
“O uso contínuo de substância psicoativa ainda traz um estigma social forte, inclusive aos médicos. Pessoas que usam qualquer droga são vistas como culpadas por seu problema e há estudos que mostram que são os pacientes mais discriminados. Além disso, temores quanto à estabilidade no trabalho e respeito junto aos familiares também dificultam a busca de apoio”, diz Palhares.
A resistência pode ser notada, inclusive, na marcação de consultas na Rede. De acordo com ele, por volta de 20% dos que agendam uma primeira consulta acabam não comparecendo. A desistência após as primeiras consultas gira em torno de 20% a 30%.
Ele ressalta que alguns destes casos acabam retornando em situação posterior, por isso a Rede mantém-se de portas abertas a eles. Cerca de 10% dos médicos atendidos são de outros Estados, o que dificulta o seguimento em longo prazo e gera expectativa por serviços semelhantes em outras regiões do país. Orientar a família e motivá-la para a manutenção do tratamento é fator fundamental na recuperação em longo prazo.
O serviço para atendimento ao médico portador de outros transtornos mentais (que não a dependência de substâncias) funciona a cargo do Programa de Esquizofrenia da Unifesp (Proesq).
Atendimento na Rede de Apoio a Médicos | ||||
Ano | Transtornos por uso de substâncias (Álcool e Drogas) | Transtornos Mentais | Comorbidades* | Total |
2011 | 20 | 7 | 11 | 27 |
2010 | 24 | 6 | 13 | 30 |
2009 | 23 | 6 | 10 | 29 |
2008 | 31 | 7 | 15 | 38 |
2007 | 37 | 8 | 16 | 45 |
2006 | 27 | 5 | 14 | 32 |
2005 | 27 | 4 | 15 | 31 |
2004 | 36 | 7 | 20 | 43 |
2003 | 44 | 9 | 24 | 53 |
2002 | 55 | 12 | 30 | 67 |
Total | 324 | 71 | 168 | 395 |
Fonte: Rede de Apoio a Médicos - Cremesp/Unifesp
Como entrar em contato com a Rede
A Rede de Apoio a Médicos oferece sistema de atendimento confidencial (sem objetivos periciais). Para minimizar dificuldades de adesão, o serviço busca atender em até 48 horas do contato inicial. Em um trabalho conjunto com o Serviço Social do Cremesp, acolhe ainda aqueles que estão dispostos ao tratamento e que se encontram em processos administrativo (com suposta incapacidade profissional, que deverá ser verificada com a realização de perícias) ou ético-profissional (para avaliação de eventual infração ética), como consequência do uso de substâncias ou por transtornos mentais.
Para obter mais informações e participar da Rede, o médico deve entrar em contato com a Central de Apoio pelos telefones (11) 5579-5643 ou e-mails: anasoares@cremesp.org.br e hamerpalhares@me.com