CAPA
EDITORIAL (JC pág. 2)
Eleição CFM - "Campanhas devem debater ideias e propostas" (Henrique Carlos)
ENTREVISTA (JC pág. 3
Diretor da FMUSP propõe alternativas para melhora do ensino médico
ATIVIDADES 1 (JC pág. 4)
Cremesp comemora plenária histórica nº 4.000 e homenageia conselheiros
ATIVIDADES 2 (JC pág. 5)
Acompanhe relatório final do fórum de Cooperativismo Médico
GERAL 1 (JC pág. 6)
Marcos Mercadante alerta para nº insuficiente de psiquiatras voltados para jovens
ELEIÇÃO CFM (JC pág. 7)
Médicos podem escolher o modo de voto: por correspondência ou presencial
ATIVIDADES 3 (JC págs. 8/9)
Portal do Cremesp estreia novidades, no conteúdo e no visual
ÉTICA (JC pág. 10)
A especialidade perícia médica sob os aspectos legal, ético e científico
VIDA DE MÉDICO (JC pág. 10)
Vandyck Neves da Silveira comemora 40 anos dedicados à Medicina
FARMACOVIGILÂNCIA (JC pág. 12)
Sobravime defende maior atenção na prescrição de medicamentos
GERAL 2 (JC pág. 13)
Realizações do Programa de Educação em Saúde para a Comunidade, do Cremesp
ALERTA ÉTICO (JC pág.14)
Dúvidas frequentes analisadas e esclarecidas pelo Cremesp
GERAL 3 (JC pág. 15)
Instituição comemora crescimento expressivo no primeiro ano de funcionamento
INFLUENZA A
Informações técnicas sobre o vírus influenza A - H1N1
GALERIA DE FOTOS
GERAL 1 (JC pág. 6)
Marcos Mercadante alerta para nº insuficiente de psiquiatras voltados para jovens
Há carência de psiquiatras da infância e adolescência no país
"Sabemos pouco sobre o transtorno do humor em crianças", diz Mercadante
São cerca de 300 profissionais para um número estimado em aproximadamente 5% da população infantil e adolescente que preenchem critérios para TDAH, com perfis impulsivos, hiperativos, prejuízos do controle mictório e déficit de atenção, entre outros distúrbios
Cuidados em saúde mental de crianças e adolescentes são desafios a serem enfrentados por muitos médicos, mesmo que não sejam especialistas nesse ramo da medicina. É comum pais buscarem auxílio médico para seus filhos em função de comportamentos considerados inadequados e que, não raro, podem ser confundidos com disfunções do organismo, como transtorno de atenção com hiperatividade, depressão ou transtorno bipolar. Com isso, a dúvida que fica é: estaria esse público sendo alvo de tratamentos desnecessários?
“Não parece”, avaliou o psiquiatra Marcos Mercadante, docente do departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo/Unifesp. “No Brasil, creio, acontece exatamente o contrário: há submedicação nesse universo”. Sua opinião não se baseia em evidências científicas, mas na experiência de quem dedicou boa parte da vida profissional à psiquiatria da infância, trajetória iniciada na década de 80, na Faculdade de Medicina da USP e na Comunidade Terapêutica Enfance, e aperfeiçoada, entre outros centros, pelo pós-doutorado em Psiquiatria da Infância e Adolescência, no Yale Child Study Center, EUA.
A hipótese de submedicação é corroborada, em primeiro lugar, pela pequena quantidade de especialistas brasileiros em Psiquiatria da Infância e da Adolescência, aproximadamente 300 no país, contra milhões de crianças com algum tipo de problema psiquiátrico – e que, por conta disso, mereceriam atenção especializada. Boa parte delas apresenta Transtorno do Aprendizado (que pode aparecer em forma de dificuldades de realizar cálculos, problemas de leitura e escrita) e o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), por vezes equivocadamente tido como simples agressividade, preguiça ou falta de educação.
Para este segundo tipo de transtorno existe terapêutica consagrada, com o uso de medicamento barato, capaz de evitar evasão escolar e suas consequências.
Estima-se que 5% da população infantil e adolescente preencham critérios para TDAH, com perfis impulsivos, hiperativos, com prejuízos do controle mictório e déficit de atenção, que podem reduzir o interesse pelos estudos. Além disso, parte dessas crianças e adolescentes apresenta risco de desenvolver problemas adicionais, como problemas antissociais e drogadição.
“A prescrição de um medicamento que custa cerca de R$ 0,20 por dia, para o qual há indicações precisas, poderia aumentar a capacidade adaptativa dessas crianças, ampliando-lhes a possibilidade de que permaneçam na escola”, ponderou o psiquiatra.
Transtorno bipolar e depressão
Conhecido até há pouco tempo como psicose maníaco-depressiva, o transtorno bipolar do humor caracteriza-se por períodos de quadro depressivo, que se alternam com outros de euforia. Conforme Mercadante, muitos pacientes chegam ao seu consultório afirmando ‘sou bipolar’. “Talvez porque o conceito de bipolaridade tenha se ampliado no Brasil, permitindo que as pessoas nele se encaixem. Mas a verdade é que ainda sabemos pouco a respeito desta doença em crianças e adolescentes”, afirmou Mercadante.
O médico avalia que, em função disso, é preciso critério ao receber dos meios de comunicação informações sobre determinados distúrbios. Porém, chama a atenção para o risco de considerarmos o que ocorre em determinadas regiões como se fossem representativas do país. “Não deveríamos traduzir o que acontece em bairros abastados, onde é até fashion dizer ‘sou bipolar’, como se fosse no Brasil inteiro. Isso dá a falsa impressão de que estamos diagnosticando demais”.
Por outro lado, ele considera que a veiculação desse tipo de discussão (excesso de diagnóstico, de medicação), tende a levantar um posicionamento contrário a diagnosticar e tratar, e aí reside a origem para um dos grandes impasses éticos na psiquiatria da infância e adolescência.
No Brasil, de acordo com os estudos epidemiológicos, existe hoje aproximadamente um milhão de crianças com depressão.
Recentemente, alerta das agências reguladoras contraindicou a prescrição de inibidores seletivos de recaptação da serotonina, o único psicofármaco efetivo para tratamento de depressão em crianças e adolescentes, com base em relatos de aumento de ideação auto e heteroagressiva.
Estudos posteriores não conseguiram deixar clara essa relação. “O impasse é, frente a uma criança deprimida, devemos medicá-la? Devemos urgentemente realizar estudos para responder a essa questão. Depressão em criança e adolescente existe, muda trajetórias de vida e pode matar”.
De qualquer forma, explica Mercadante, o critério mais relevante para determinar quem precisa ou não de cuidados envolve as noções de adaptação e desadaptação. Sinais de alerta: impacto social devido aos sintomas, prejuízo funcional e/ou sofrimento. “Posso ter um perfil de déficit de atenção e ser o melhor ‘cara’ do mercado financeiro – e viver bem. Por outro lado, se este transtorno me deixa longe da escola e o dia inteiro fumando maconha no bar da esquina, estou desadaptado. Preciso de tratamento”.
Mencionados alguns problemas psiquiátricos na infância e adolescência, vale questionar: todos médicos que lidam com esse contingente estão preparados para diagnosticar os distúrbios? “Nosso compromisso, no recém-lançado Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência, é educar. Da mesma maneira que aprendemos a identificar desidratação, deveríamos reconhecer transtornos psiquiátricos em crianças”, ponderou o psiquiatra. “A estabilidade do diagnóstico de déficit de atenção, por exemplo, é altíssimo. Ao desvalorizar os sintomas desse transtorno dizendo ‘é só um problema de falta de educação’, estaremos perdendo a chance de ajudar aquele paciente”.
Leitura neurobiológica
Estudo epidemiológico nacional – um dos 16 projetos recém-aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ao recém-lançado Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes – pretende mapear os sintomas de transtornos de aprendizagem em cinco mil crianças e jovens brasileiros de até 16 anos do ensino fundamental para, depois, testar formas de intervenção.
O estudo prevê parcerias com universidades, como a USP, Unifesp, Unesp, entre outras –, e recebe o apoio de importantes centros universitários norte-americanos, como os de Yale, Harvard e Nova Iorque.
“É uma alternativa da psiquiatria que se aproxima daquilo que outras especialidades tradicionalmente exercem, que é a prevenção. Ou seja, mais do que tratar uma criança com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), ou que está em pânico, procura-se minimizar os sintomas precursores e os fatores de risco bem mapeados por estudos, inclusive, brasileiros”, afirmou Marcos Mercadante.
Marcos Mercadante