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CAPA

EDITORIAL (JC pág. 2)
"A prática de crimes contra a humanidade é incompatível com o exercício ético da Medicina" - Henrique Carlos Gonçalves


ENTREVISTA (JC pág. 3)
Antonio Carlos Lopes: duras críticas à gestão atual do Programa de Residência Médica do Ministério da Educação


ATIVIDADES 1 (JC pág, 4)
Cremesp na Comissão Pró-SUS: por condições dignas de trabalho, remuneração e crescimento profissional


ATIVIDADES 2 (JC pág, 5)
Dia do Médico: homenagens e a posse dos novos diretores das regionais da APM no ABC, marcaram as comemorações


ESPECIAL (JC pág. 6)
A real situação das unidades de pronto-atendimento e prontos-socorros: condições de trabalho e acolhimento dos pacientes estão à beira de um colapso...


GESTÃO 2008-2013 (JC pág. 8-9)
A união entre as entidades e o estreitamento da relação deste Conselho com os médicos serão marcas desta gestão - Henrique Carlos Gonçalves


ÉTICA & JUSTIÇA (JC pág. 10)
Questões éticas e jurídicas da Medicina irão fazer parte do Jornal do Cremesp a partir desta edição


EXAME (JC pág. 11)
Resultados da quarta edição do Exame do Cremesp mostram piora no ensino médico no Estado


VIDA DE MÉDICO (JC pág. 12)
Gilberto Lopes da Silva Júnior: sua experiência de vida, dedicada integralmente à Medicina, relatada em livro


GERAL 1 (JC pág. 13)
TISS e profissional liberal... temas sempre polêmicos, foram abordados pelos conselheiros do CFM nesta edição


ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Se estiver insatisfeito, paciente preso pode pleitear transferência do serviço médico?


GERAL 2 (JC pág. 15)
Vice-presidente do Cremesp recebe homenagem em Fórum Interprofissional sobre Violência contra a Mulher, realizado em São Luís


HISTÓRIA (JC pág, 16)
A rede de hospitais São Camilo, em expansão na cidade de São Paulo, conta sua história e os planos ousados de crescimento até 2012


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Edição 254 - 11/2008

EXAME (JC pág. 11)

Resultados da quarta edição do Exame do Cremesp mostram piora no ensino médico no Estado


Exame do Cremesp

Reprovação de 61% dos egressos de Medicina revela piora no ensino médico

O índice de reprovação do Exame do Cremesp praticamente dobrou desde a primeira edição, passando de 31%, em 2005, para 61%, em 2008 – um crescimento de 97% em quatro anos. Esses foram os resultados do quarto teste que avalia o desempenho dos estudantes do sexto ano de Medicina. Os dados, que revelam a piora da qualidade no ensino médico no Estado de São Paulo, foram divulgados no último dia 5 de novembro, em entrevista coletiva à imprensa na sede do Cremesp, na capital paulista.

O Cremesp também divulgou os resultados das provas por área de conhecimento e de acordo com a natureza das escolas médicas (públicas ou privadas), índices que também demonstram a má formação acadêmica e o despreparo dos estudantes sextanistas de medicina para atua¬rem no mercado de trabalho. Muitos dos participantes se saíram mal, por exemplo, na solução de problemas freqüentes em áreas essenciais: atendimentos em emergência, pediatria, obstetrícia e clínica médica.

Para o coordenador da comissão organizadora do Exame do Cremesp, Bráulio Luna Filho, esse percentual de reprovação demonstra graves problemas no processo de formação do médico. Em sua opinião, deveria haver, ao longo do curso de Medicina, avaliações periódicas dos acadêmicos (realizadas pela própria instituição de ensino) que permitissem concluir se, ao final dos seis anos de curso, o médico recém-formado está apto a cuidar de seus pacientes.

“Lamentavelmente, nenhuma escola médica no Estado de São Paulo faz esta avaliação longitudinal, confirmando a real necessidade de acompanhamento do desempenho acadêmico pelas instituições públicas e privadas”, explica ele. E completa: “não obstante à necessidade de as escolas médicas realizarem esse tipo de avaliação científica, também se impõe um exame final efetuado por um órgão externo qualificado, só assim teremos condições de analisar o sucesso ou insucesso da execução pedagógica do curso médico e o compromisso dos estudantes com a boa formação”, considerou Bráulio.

Mauro Dinato, coordenador da Faculdade de Medicina da Unilus, acredita que uma reprovação de 61% dos formandos em Medicina é extremamente preocupante, pois “deixa a impressão de que as faculdades estão apenas preocupadas em formar médicos, em detrimento da qualidade do ensino, ou seja, colocando no mercado médicos despreparados”. Para reverter este processo ou mesmo amenizá-lo, Dinato considera necessária uma mudança radical nas universidades. “É preciso maior rigor na aprovação dos alunos, desde o curso básico até o internato. A sensação que dá é que pouco se cobra dos alunos. Todos são aprovados ano a ano, e o número de estudantes realmente preparados está abaixo  do que se deveria esperar”, lamenta.

Qualidade do ensino médico
Atualmente, 31 escolas médicas estão em atividade no Estado de São Paulo e 24 delas formam cerca de 2.300 alunos por ano. As demais, abertas há menos de seis anos, ainda não formaram suas primeiras turmas. Esse número é crescente, por isso, o Cremesp está atento à qualidade do ensino médico nessas escolas. Segundo o presidente do Conselho, Henrique Carlos Gonçalves, o principal foco dessa preocupação com a perícia dos médicos que estão se formando é a atenção à saúde das pessoas. “Temos obrigação de zelar por essa qualidade, evidentemente”.

Uma vez graduado, por força de lei, o Cremesp tem a obrigação de habilitar o aluno formado em Medicina para o exercício profissional. Isso decorre de uma lei de 1957 quando, segundo Henrique Carlos, a realidade da medicina era outra. “Esses profissionais graduados têm o direito legal de exercer a medicina em todos os seus ramos e em todas as suas especialidades. Isto consta no texto da lei, mas hoje é um absurdo um médico recém-formado ter o direito de realizar procedimentos altamente complexos, que exigem uma boa formação, conhecimento técnico-científico e uma grande habilidade”, afirma.

De acordo com Henrique Carlos, os efeitos da precariedade do ensino médico têm se refletido no aumento do número de denúncias ao Conselho: “Notamos que, nos últimos anos, o número dos casos de imperícia médica dobrou, e aquilo que ocorria principalmente com os recém-formados, hoje vem acontecendo com profissionais já com alguns anos de formação. Então o Conselho tem uma obrigação ética, um compromisso social e até uma obrigação legal de intervir nesse processo”, declara. O presidente revela ainda que o Conselho vai consolidar essas quatro provas, tanto a parte prática quanto a teórica, e divulgar, já no começo do ano que vem, esses resultados. “Queremos promover um amplo debate com a sociedade brasileira e, principalmente, com o Congresso Nacional, que é a instituição responsável pelas medidas corretivas desse processo de formação e de habilitação dos médicos”.

Avaliação do Cremesp
Em 2008, dos 679 participantes da primeira fase (dentre 934 inscritos), que cursaram escolas médicas de São Paulo, 262 participantes (39%) foram aprovados para a segunda fase.

Média de acertos e áreas de conhecimento
A média de questões respondidas corretamente na primeira fase do exame de 2008 foi de 60,93%. O participante com nota mínima acertou 42 questões e o maior número foi o acerto de 102 questões (dentre 120). O desempenho dos participantes também foi medido conforme áreas do conhecimento médico (Tabela). Abaixo de 60% de acertos o resultado por área de conhecimento é considerado insatisfatório. No exame de 2008 o desempenho acima de 60% ocorreu apenas nas áreas de Saúde Pública, Bioética e Saúde Mental.  O Exame do Cremesp demonstra que há deficiências na formação dos estudantes em campos essenciais do conhecimento médico. São preocupantes os desempenhos dos participantes em áreas como Pediatria (51,32%), Obstetrícia (53,90%), Ginecologia (52,00%) e Clínica Médica (56,70%). Vale ressaltar que são áreas básicas da medicina nas quais se concentra grande parte das demandas dos serviços de saúde e das necessidades de saúde da população.

Escolas privadas têm pior desempenho
No resultado da primeira fase, de acordo com a natureza das escolas médicas, verifica-se que o índice de reprovação foi maior entre os cursos privados, quando comparados com os públicos. Dentre os estudantes vindos de escolas particulares, 32,5% foram aprovados; já dentre os originários de escolas médicas públicas, 54,1% tiveram aprovação na primeira fase. Na comparação das médias de acertos por áreas de conhecimento, os participantes que cursaram escolas médicas públicas também tiveram melhor desempenho. 

A análise dos resultados do Exame do Cremesp 2008, na íntegra, está disponível em nosso Centro de Dados.



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